Um novo estudo inédito sugere que a proibição de celulares nas escolas não se traduz em melhorias nas notas ou no bem-estar mental dos alunos. Realizada por acadêmicos da Universidade de Birmingham, essa pesquisa se destaca como a primeira a examinar as regras de uso de smartphones em instituições de ensino, considerando também aspectos de saúde e educação.
Os resultados mostraram que não havia diferença significativa em relação ao sono, comportamento em sala de aula, prática de atividades físicas ou uso geral dos smartphones entre escolas que impunham restrições e aquelas que não o faziam. Os pesquisadores também notaram que, por outro lado, uma maior utilização de dispositivos móveis e redes sociais estava associada a resultados negativos em várias métricas, como saúde mental, desempenho acadêmico e atividade física.
A educadora física Victoria Goodyear, principal autora do estudo, comentou à BBC que, apesar do foco nas proibições, essas medidas isoladas não são suficientes para mitigar os impactos negativos desses dispositivos no ambiente escolar. “Precisamos fazer mais do que apenas proibir telefones nas escolas”, afirmou Goodyear, enfatizando a importância de estratégias que abordem o uso consciente da tecnologia.
O estudo, publicado na renomada revista acadêmica The Lancet Regional Health Europe, envolveu a análise de 1.227 alunos de 30 escolas secundárias na Inglaterra. As instituições foram selecionadas a partir de uma amostra de 1.341 escolas públicas, e as conclusões apontaram que as proibições de celulares não correspondem às expectativas de melhoria em áreas como saúde e desempenho acadêmico.
'Nos telefones o tempo todo'
A experiência de um aluno, identificado como Charlie, destaca a dinâmica envolvida nas proibições. Ao mencionar sua antiga escola em Londres, ele relatou que a proibição severa de celulares inicialmente o fez se socializar mais, embora ainda perceba que muitos de seus colegas continuam usando os dispositivos excessivamente fora da sala de aula.
Por outro lado, Colin Crehan, diretor da Holy Trinity Catholic School, argumenta que a restrição de celulares pode acarretar mais problemas do que soluções. Segundo ele, é vital que os alunos aprendam a usar seus dispositivos de forma segura e controlada, já que os alunos consideram a liberdade para utilizar suas tecnologias como um aspecto importante de sua vida escolar.
As opiniões dos estudantes são diversas; alguns acreditam que a proibição ajuda a reduzir o bullying e promove habilidades sociais, algo que não foi considerado no estudo da Universidade de Birmingham. Em Conwy, País de Gales, por exemplo, a escola Ysgol Aberconwy implementou um sistema em que os telefones dos alunos são bloqueados a menos que um professor os desbloqueie, e muitos alunos notaram uma melhoria na atmosfera escolar.
Proibição de celulares no Brasil
No Brasil, a discussão sobre o uso de celulares nas escolas culminou em uma nova legislação sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em janeiro de 2023. Essa lei visa equilibrar os prós e contras da utilização de smartphones nas salas de aula, estabelecendo diretrizes rigorosas para o uso de dispositivos móveis em todas as etapas da educação básica.
A educadora brasileira Débora Garofalo, reconhecida no Global Teacher Prize, sugere que ao invés de proibir, as escolas deveriam educar os alunos sobre o uso consciente da tecnologia. Para ela, a proibição pode ser um primeiro passo, mas não deve ser o objetivo final da legislação.