A China, reconhecida como a maior importadora de energia global, anunciou uma nova medida de retaliação comercial, que impactará as importações de petróleo bruto, gás natural liquefeito (GNL) e carvão dos Estados Unidos. Essa decisão, comunicada pelo Ministério das Finanças chinês, surge após a imposição de tarifas pelo governo dos EUA, liderado pelo ex-presidente Donald Trump, contra produtos chineses. A partir de 10 de fevereiro, o país asiático aplicará taxas de 15% sobre carvão e GNL e de 10% sobre o petróleo bruto, além de tarifas sobre equipamentos agrícolas e automóveis.
Segundo dados da Administração de Informações sobre Energia dos EUA, as importações chinesas de petróleo bruto dos EUA caíram drasticamente: cerca de 230.540 barris por dia (bpd) nos primeiros 11 meses de 2024, representando uma queda de 52% em relação ao ano anterior. No total, as importações dos EUA chegaram a apenas 1,7% do total de petróleo bruto importado pela China, totalizando cerca de 6 bilhões de dólares, uma diminuição em comparação com os 2,5% registrados em 2023. Entretanto, as importações de GNL provenientes dos EUA mostraram um crescimento, somando 4,16 milhões de toneladas no último ano, equivalentes a 2,41 bilhões de dólares, quase dobrando os números de 2018 e contabilizando 5,4% das compras totais da China.
Mesmo com a nova tarifa, o GNL americano adquirido através de contratos de longo prazo pode continuar a ser uma opção viável para os consumidores chineses, sobretudo quando comparado aos preços de mercado à vista. Contudo, analistas, como Alex Siow, do ICIS, indicam que é provável que as empresas chinesas evitem compras spot dos EUA e procurem alternativas na Ásia devido ao aperto no mercado. 'As empresas chinesas provavelmente buscarão outras fontes spot', afirma Siow, destacando a dificuldade em encontrar opções viáveis no cenário atual.
A retaliação tarifária também pode influenciar as negociações futuras entre importadores chineses e fornecedores norte-americanos, especialmente para compradores secundários, como concessionárias de serviços públicos que carecem de poder de negociação. Embora os EUA sejam os maiores exportadores de GNL do mundo, ocupam apenas a quinta posição entre os fornecedores da China, que manifesta ambições de incrementar significativamente suas importações de GNL nos anos seguintes, especialmente sob a gestão de Trump.
Na análise de Mia Geng, especialista da FGE, quando a China impôs tarifas de 25% sobre o petróleo bruto americano durante o primeiro mandato de Trump, houve uma interrupção significativa nas compras do país, que deixou de adquirir 300.000 a 400.000 barris diários, em busca de fornecedores alternativos da África Ocidental e de regiões asiáticas. 'Ainda estamos avaliando isso internamente, mas parece que veremos uma pausa nas compras, enquanto alternativas de petróleo leve e doce serão procuradas', comentou Geng, enfatizando que essa situação não deve impactar profundamente as refinarias chinesas, já que a quantidade total de 100.000 bpd representava não um número relevante para a demanda total.
Os novos encargos tarifários elevarão os custos do petróleo bruto West Texas Intermediate (WTI) para a China em comparação com outras opções disponíveis, como o CPC do Cazaquistão e o Murban de Abu Dhabi. Jun Goh, analista da Sparta Commodities, esclarece que, no panorama geral, essa medida não deverá afetar os preços do WTI, já que ainda existem mercados para escoar suas vendas. Um comerciante na China apontou que a gigante estatal de refino Sinopec, principal compradora de petróleo dos EUA, poderá sentir os efeitos das tarifas. Ele prevê que os importadores chineses buscarão isenções como nas tentativas anteriores, enquanto as refinarias vão se direcionar a fornecimentos alternativos e aumentar as aquisições do Oriente Médio.
É importante salientar que a China, apesar da nova tarifa sobre o carvão, não é um grande consumidor desse produto proveniente dos EUA. No entanto, os dados da alfândega chinesa mostram um crescimento significativo nas remessas de carvão metalúrgico, utilizado na produção de aço, que subiram quase um terço, alcançando 1,84 bilhão de dólares em 2024.