A guerra comercial iniciada por Donald Trump com tarifas para a China, México e Canadá tem gerado embates significativos no cenário econômico. Durante um recente pronunciamento, Trump reconheceu que essas tarifas poderiam causar "alguma dor" aos cidadãos americanos, mas garantiu que "tudo valerá a pena".
O presidente norte-americano postou em sua rede social, a Truth Social, que esta é a "fase de ouro da América", onde ele acredita que os resultados serão "espetaculares". Trump afirmou ainda: "Haverá alguma dor? Sim, talvez (e talvez não!). Mas faremos a América grande de novo, e tudo valerá a pena pelo preço que deve ser pago".
A declaração de confiança do presidente é reflexo de sua estratégia de fomentar o mercado interno, acreditando que isso ajudaria a enfrentar as consequências de suas medidas tarifárias, que logo desencadearam reações de outros países.
No último domingo, o ministro das Finanças do Canadá, Dominic LeBlanc, anunciou uma lista de produtos americanos que serão taxados em 25%, totalizando um impacto financeiro estimado em US$ 30 bilhões. Entre os itens que sofrerão aumento, estão roupas, eletrodomésticos, ferramentas e armas de fogo. O primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, incentivou sua população a "comprar produtos nacionais".
As ações canadenses são uma resposta direta às imposições tarifárias americanas, baseadas no princípio da reciprocidade, muito comum em relações diplomáticas. Em suas considerações, Trump não hesitou em insinuar a possibilidade de anexar o Canadá, declarando: "Não precisamos de nada que eles têm. Temos energia ilimitada, deveríamos fabricar nossos próprios carros e temos mais madeira do que podemos usar".
De acordo com Trump, a anexação do Canadá traria custos menores e garantia de proteção militar, além de eliminar tarifas comerciais. Enquanto isso, o México também se prepara para retaliar. A presidente mexicana, Claudia Sheinbaum, declarou que medidas tarifárias, com percentuais que variam de 5% a 20%, estão em estudo, afetando produtos como carne suína, queijo, aço e alumínio.
Quanto à China, o governo contestará as tarifas de 10% que envolvem seus produtos na Organização Mundial do Comércio (OMC). Trump justificou essas novas tarifas como uma tentativa de "estancar" a entrada de fentanil no país, utilizando procedimentos tarifários como uma ferramenta não apenas econômica, mas também política.
Roberto Azevêdo, ex-diretor-geral da OMC, destacou que a política de Trump em relação às tarifas reflete sua crença de que esse é um caminho eficaz para reforma econômica e pressão no cenário político. Ele comentou que os EUA importam anualmente cerca de US$ 3 trilhões em bens e serviços, o que equivale ao PIB da França, o que confere ao país um poder comercial significativo para influenciar resultados.
No entanto, economistas apontam que essas medidas podem trazer consequências negativas para empresas e consumidores americanos, que ainda estão lidando com o aumento da inflação nos últimos tempos. O setor automotivo, por exemplo, é um dos mais ameaçados, já que os EUA importaram aproximadamente US$ 87 bilhões em veículos e US$ 64 bilhões em peças no último ano.
Além disso, produtos eletrônicos, como celulares, TVs, laptops e consoles de videogame, são entre os principais bens que os Estados Unidos importaram da China, ampliando as preocupações sobre o impacto das tarifas no cotidiano dos cidadãos americanos.
Trump, ao mencionar a possibilidade de "alguma dor", demonstra estar ciente das repercussões de sua política tarifária agressiva, cujos efeitos podem se alastrar pelo mercado e afetar a população.