A JBS, dona de marcas como Seara e Friboi, vai se tornar acionista da Mantiqueira, uma das maiores empresas de ovos do mundo, e fazer sua estreia no segmento de avicultura. De acordo com a operação, a JBS terá 50% do capital votante da Mantiqueira. A outra metade continua com o fundador da empresa, Leandro Pinto.
O total que a JBS vai aportar ainda vai depender do fechamento da operação, que precisa do aval do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade, que regula a concorrência no país) e de algumas condições, como transformar a Mantiqueira de uma empresa limitada para S.A. De acordo com as companhias, o valor de 100% da Mantiqueira é estimado em R$ 1,9 bilhão. A XP assessorou a Mantiqueira.
No ano passado surgiram rumores de que a JBS compraria a Mantiqueira, dona das marcas Happy Eggs, com foco em galinhas livres, e Fazenda da Toca, no segmento de ovos orgânicos. Para a entrada da JBS, a Mantiqueira separou a operação de avicultura, que responde por cerca de 80% do faturamento, e agropecuária, com os 20% restantes. A JBS está apenas na parte da avicultura.
O objetivo do acordo é expandir a Mantiqueira tanto no Brasil como no exterior, para construir a maior plataforma de produção e comercialização de ovos do mundo, afirmaram as companhias em comunicado. Também estão nos planos um futuro IPO (abertura de capital) na Bolsa.
— A Mantiqueira vai se tornar uma S.A. Se for bom para a companhia, podemos fazer um IPO também. Mas ainda estamos longe disso — diz o fundador e presidente do Conselho da Mantiqueira Brasil, Leandro Pinto. — A JBS vai se tornar sócia da Mantiqueira Brasil.
Leandro destaca que o incremento nas exportações e o início da produção internacional fazem parte da estratégia da nova sociedade, além de ampliar a presença nacional. Para isso, ele não descarta aquisições.
— Esse movimento representa um avanço significativo para o setor brasileiro, abrindo caminho para que a Mantiqueira replique o sucesso já alcançado pela JBS no mercado de carnes. Somos líderes no Brasil e, com a vinda da JBS para nossa empresa, teremos mais acesso às oportunidades dos mercados, além de obtermos conhecimento necessário para nos tornarmos um competidor relevante fora do país. Essa união é um marco no nosso planejamento estratégico que sempre buscou, além da expansão orgânica, a entrada em novos mercados — afirmou Leandro.
Para a JBS, a união é vista como uma oportunidade estratégica e agregar valor às operações internacionais.
— Esse investimento está alinhado com nossa estratégia de longo prazo, que prevê a diversificação do portfólio com a entrada novos segmentos de proteína e o investimento em negócios de marca com valor agregado — afirmou Gilberto Tomazoni, CEO global da JBS.
Segundo Márcio Utsch, presidente da Mantiqueira Brasil, o Brasil tem condições de se tornar um ator global no segmento de ovos. Dados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) apontam que a produção brasileira de ovos registrou um crescimento médio anual de 4,4% na produção nos últimos dez anos. No mesmo período, a produção de frango e suíno cresceu em 1,9% e 4,2%, respectivamente.
Para o executivo, a Mantiqueira vai exercer um papel importante para abrir esse caminho. Utsch completa que a gestão da Mantiqueira e os planos de crescimento no país se mantêm. A JBS vai indicar metade dos representantes do Conselho.
— Nossa atuação será decisiva para reafirmar o potencial do país como fornecedor global. Vamos aproveitar as sinergias — disse Utsch.
Em relatório sobre a operação, analistas do Itaú BBA avaliaram que a sociedade entre as empresas deve ter um retorno diluído, dado o tamanho do negócio da Mantiqueira em relação à JBS, mas dizem que o movimento é positivo por estar em linha com a estratégia da JBS de diversificar a atuação, tanto geograficamente como também em tipos de proteína. "Além disso, devido à natureza fragmentada do setor de ovos no Brasil, vemos essa aquisição como uma potencial aceleração de uma tendência de consolidação para a JBS no segmento, deixando espaço para que o robusto balanço patrimonial da empresa alavanque novas oportunidades de crescimento na parceria", afirmam os analistas Gustavo Troyano e Bruno Tomazetto.