A participação do cardeal Roger Mahony no fechamento do caixão do Papa Francisco, previsto para esta sexta-feira, dia 24 de abril, às 20h, tem gerado intensas críticas e controvérsias. Mahony, que foi arcebispo emérito de Los Angeles, foi afastado de todas as funções públicas em 2013, após a revelação de documentos que confirmavam sua proteção a padres acusados de abusar de menores nas décadas de 1980 e 1990. Defensores de vítimas de abuso clerical classificaram sua inclusão entre os clérigos convidados para a cerimônia como "profundamente perturbadora".
A arquidiocese de Los Angeles, sob a liderança de Mahony, pagou mais de 415 milhões de libras a mais de 500 vítimas em 2007, representando a maior indenização já feita pela Igreja Católica por casos de abuso sexual. Documentos internos mostraram que ele transferiu padres denunciados para outras paróquias e evitou reportá-los às autoridades, um fato que tem sido amplamente criticado por grupos de sobreviventes.
Organizações de defesa de vítimas ressaltam que a presença de Mahony durante o funeral do Papa Francisco envia uma mensagem negativa, sugerindo que a Igreja não reconheceu plenamente as gravidades de suas falhas em lidar com os escândalos de abuso. A cerimônia será realizada horas antes do funeral, que reunirá líderes mundiais, incluindo o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky.
O funeral do Papa está agendado para o sábado, 25 de abril, às 10h, e será seguido por um conclave para a eleição de um novo Papa. Dos 252 cardeais no mundo, 120 participarão da votação secreta que ocorrerá na Capela Sistina.
A escolha de Francisco para ser enterrado na Basílica de Santa Maria Maior, ao invés do tradicional solo vaticano, reflete seu apego a este local, onde frequentemente rezava antes de suas viagens internacionais. Sua morte marca o início de um conclave que definirá se a Igreja continuará a focar em justiça social e reformas burocráticas, que foram características de seu pontificado.
O arcebispo de Los Angeles, José Gómez, não participará da eleição, uma vez que não é cardeal. A questão das figuras polêmicas participando de ritos fúnebres papais não é nova, mas a presença de Mahony ocorre em um momento em que há uma crescente pressão por transparência e responsabilidade dentro da Igreja, após décadas de escândalos relacionados a abusos.
Os documentos que incriminaram Mahony em 2013 revelaram estratégias que ele utilizava para evitar escândalos, incluindo a terapia para padres acusados e acordos confidenciais com as vítimas. Em um comunicado à época das revelações, Mahony afirmou: "O que aconteceu não deveria ter ocorrido e não se repetirá". A reação atual enfatiza a desconfiança em relação a essa afirmação, dada a história conturbada envolvendo sua liderança.
Ainda que a presença de figuras controversas como Mahony em eventos destes não seja uma novidade, a atual situação destaca a necessidade urgente da Igreja em abordar suas falhas históricas e mostrar um compromisso verdadeiro com a justiça para as vítimas de abusos clericais.