Um conflito agrário crescente no oeste do Quênia está levantando alertas sobre a estabilidade do setor de chá no país, envolvendo comunidades indígenas Kipsigis e Talai, além de multinacionais britânicas e asiáticas. As tensões surgem em meio a disputas por terras ancestrais, invasões, furtos e a controversa venda de plantações, especialmente durante os últimos meses, com um aumento significativo em abril de 2025.
A situação é particularmente crítica nos condados de Kericho, Bomet e Nandi, regiões essenciais para a produção chá. Historicamente, essas terras foram tomadas de forma violenta durante o domínio colonial britânico, e as reivindicações das comunidades locais por justiça permanecem sem solução. As invasões recentes às plantações de empresas multinacionais têm se intensificado desde 2023, com grupos organizados furtando folhas de chá e ocupando áreas estratégicas. A Associação dos Produtores de Chá do Quênia (KTGA) alertou sobre as consequências negativas dessas ações, que comprometeram a segurança e a economia local.
A venda das plantações de chá da Lipton para Browns Investments, uma empresa ligada a um grupo do Sri Lanka, gerou protestos e acusações de violações de direitos humanos. A Lipton é acusada de ignorar uma oferta de um consórcio local que visa devolver as terras às comunidades Kipsigis. Enquanto a empresa afirma que o processo de venda foi legal e transparente, os líderes comunitários contestam, pedindo o consentimento livre e informado, elemento temporal crucial na política interna da empresa.
Líderes Kipsigis insistem que as plantações são em terras roubadas e que as transações recentes perpetuam antigas injustiças. Um consórcio local lançou uma proposta que incluiria até 100% de propriedade comunitária através de um fundo fiduciário, mas essa ideia foi rejeitada, intensificando o clima de exclusão e tensão.
A crise fundiária tem afetado milhares de trabalhadores nas plantações, resultando em perdas de emprego devido à mecanização e aos furtos que comprometem a produção. A instabilidade também ameaça a reputação do Quênia como um dos principais exportadores de chá do mundo, o que poderia resultar em consequências severas para a economia do país.
Organizações sindicais e cooperativas locais estão promovendo a maior inclusão das comunidades na propriedade das plantações, mas a adesão está aquém do necessário, refletindo a falta de confiança e incerteza entre as partes. O cenário atual no Quênia serve como um alerta para outras plantações de chá estrangeiras no país, destacando a urgência de um diálogo respeitoso com as comunidades locais e a busca por soluções que integrem desenvolvimento econômico com a justiça social e histórica.