A espaçonave Hera, da Agência Espacial Europeia (ESA), realizou um impressionante sobrevoo próximo ao planeta Marte, onde conseguiu registrar imagens inéditas da lua Deimos. Esta missão é parte dos esforços para desenvolver métodos de defesa planetária e testou a capacidade de suas câmeras, que serão fundamentais para a análise do asteroide Dimorphos. A Hera se dirige para Dimorphos como sequência da missão DART da NASA, que foi pioneira em testar técnicas de desvio de asteroides. A chegada a Dimorphos está prevista para 2026.
Durante seu sobrevoo por Marte, a espaçonave capturou centenas de imagens do planeta vermelho, assim como várias fotos da intrigante lua Deimos, que tem atraído a atenção dos operadores da missão. Patrick Michel, investigador principal da missão, expressou sua empolgação ao comentar: “Estávamos esperando ansiosamente por essas imagens”. Na coletiva de imprensa do dia seguinte, a revelação das fotos da lua gerou uma onda de comemorações entre os membros da equipe. Michel acrescentou: “Nunca vimos Deimos dessa forma”.
A Hera conseguiu voar a cerca de 960 quilômetros acima de Deimos, uma lua irregular que mede aproximadamente 15 quilômetros de comprimento. Essa manobra revelou a lua em detalhes impressionantes, comparando-a a “uma pequena ilha flutuando sobre um deserto marciano repleto de crateras”. A emoção também foi evidente em Ian Carnelli, gerente do projeto, que não conseguiu disfarçar sua felicidade, afirmando: “A empolgação foi tanta que não conseguimos dormir”.
Durante a passagem, a espaçonave utilizou Marte para uma manobra de assistência gravitacional, o que a ajudou a acelerar e ajustar sua trajetória rumo ao asteroide. Além de capturar imagens, os operadores aproveitaram a oportunidade para testar as câmeras que serão usadas na investigação de Dimorphos.
Nos dias que seguem, os cientistas da missão prometem divulgar mais fotos da interação da Hera com Marte, incluindo imagens de Fobos, a outra lua marciana. Como em toda missão de sobrevoo, imperava a ansiedade sobre o desempenho das manobras, mas Sylvain Lodiot, gerente de operações, se mostrou confiante, informando: “A espaçonave se comportou muito bem. Estamos a caminho do sistema de asteroides”.
A missão Hera representa um desdobramento da DART (Double Asteroid Redirection Test) da NASA, que teve sucesso em 2022 ao colidir deliberadamente com o asteroide Dimorphos para alterar sua órbita. Essa missão visa testar se um asteroide em rota de colisão com a Terra pode ser desviado. O impacto teve êxito em mudar a órbita de Dimorphos, embora ainda existam dúvidas sobre suas características físicas e reações ao impacto. Relatos indicam que Dimorphos se comportou como um fluido durante a colisão, liberando uma grande quantidade de detritos e mudando de forma.
Para aprimorar a capacidade de resposta a potenciais ameaças de asteroides, a Hera chegará a Dimorphos no final de 2026 para um estudo abrangente do asteroide que foi impactado pela DART.
Durante o sobrevoo de Marte e Deimos, a espaçonave utilizou três câmeras, incluindo uma câmera térmica infravermelha fornecida pela Agência Japonesa de Exploração Aeroespacial (JAXA). A origem das duas luas de Marte continua envolta em mistério. Elas podem ser fragmentos de um asteroide desintegrado que foi capturado pela gravidade de Marte ou restos de um grande impacto. Deimos, que está em rotação sincronizada com Marte, sempre apresenta um de seus hemisférios voltado para o planeta, sendo essa a face mais observada por espaçonaves ou rovers na superfície do planeta vermelho. Porém, a Hera teve a oportunidade rara de voar atrás de Deimos, capturando imagens do lado oculto. Stephan Ulamec, pesquisador do Centro Aeroespacial Alemão e membro da equipe da Hera, comentou: “É uma das pouquíssimas imagens que temos do lado oculto de Deimos”.
Esse vislumbre oportuno do conjunto Marte-Deimos foi uma experiência excitante para a equipe. A expectativa está alta em relação ao futuro da Hera e sua jornada rumo ao seu destino final. “Todos estamos ansiosos para ver como Didymos e Dimorphos se parecerão”, concluiu Michel.