O jogo Wanderstop vai além de simples atividades como fazer chá. Se você já se sentiu sobrecarregado e à beira do esgotamento em sua rotina diária, a história de Alta, a protagonista do jogo desenvolvido pela Ivy Road e publicado pela Annapurna Interactive, certamente ressoará com você.
A jornada de Alta representa o quanto nos custa buscar a excelência e o desempenho máximo. Para ela, isso significou perder o que mais amava: a arte do combate. Sem suas habilidades de luta, seu verdadeiro desafio se torna reencontrar o propósito de sua existência. Embora aprender sobre chá e jardinagem não melhore suas capacidades de combate, essas atividades ressaltam que é aceitável não estar sempre em movimento.
O jogo convida os jogadores a pausar, degustar uma xícara de chá e refletir sobre suas vidas.
Wanderstop nos apresenta a Alta, uma combatente de grande renome que, ao ser derrotada pela primeira vez em anos, enfrenta uma intensa crise de identidade. Em busca de se tornar a melhor versão de si mesma, ela decide atravessar uma floresta encantada para se tornar aprendiz de uma mestra respeitada. Porém, ao atravessar essa floresta densa, Alta sofre uma perda de força e não consegue levantar sua espada. Após desmaiar, ela é resgatada por Boro, o gentil proprietário da Wanderstop, uma loja de chá isolada.
Apesar de sua relutância em permanecer, Alta se vê impossibilitada de partir, já que desmaia sempre que tenta sair. Enquanto se recupera, acaba aceitando ajudar Boro na preparação de chás para os viajantes que visitam a loja, seja para fazer pedidos ou apenas relaxar.
No início do jogo, Alta está obcecada por ser útil e espera ter tarefas a cumprir. Com o passar do tempo, ela percebe que algumas vezes não haverá nada para fazer, e isso é perfeitamente aceitável.
Porém, desenvolver paciência para o ritual de preparar uma simples xícara de chá será um desafio. O jogador deve primeiro entender as plantas — que variam de comuns a híbridas — e aprender como plantar, irrigar e colher antes de preparar as bebidas. A complexidade dos pedidos pode tornar esse processo demorado.
A protagonista também se depara com a frustração de não conseguir agradar a todos, já que nem sempre terá os ingredientes necessários para as receitas. Alta aprendeu que isso não é culpa dela e não a torna menos valiosa.
Além disso, ela pode experimentar os chás que preparou, resultando em devaneios que reavivam suas memórias. Contudo, senti falta de cutscenes durante esses momentos de recordação; as narrativas são apenas contadas pela própria personagem. Dependendo do local escolhido para degustar sua bebida, as vistas podem ser menos cativantes.
Outro ponto que pode gerar estranhamento é o fato de que apenas Alta possui dublagem, o que pode deixar a narrativa menos dinâmica em comparação com os outros NPCs.
Ainda assim, a jogabilidade não se limita a fazer e entregar pedidos. Os clientes que frequentam a Wanderstop possuem características únicas e histórias interessantes, e o desenvolvimento da narrativa com cada xícara de chá mantém o jogador engajado.
Nem sempre a loja estará cheia de clientes e, durante esses períodos, é possível aproveitar o ambiente relaxante do jogo. Você pode personalizar o cômodo com flores, emoldurar fotos e até interagir com pluffins, adoráveis aves gordinhas semelhantes a pinguins.
No entanto, o processo de preparar chás pode se tornar repetitivo conforme o jogo avança, já que não há muita variação nas atividades realizadas. Em várias ocasiões, experimentei frustração por não conseguir encontrar certos ingredientes ou por dificuldade em conduzir uma receita. As notificações sobre as tarefas a serem cumpridas ferem o ritmo relaxante que o jogo pretende transmitir.
Mesmo assim, jogar Wanderstop proporciona a sensação de ter acabado de participar de uma sessão terapêutica. Através da narrativa, é possível compreender que não há problema em mudar, mesmo que isso signifique não estar sempre produzindo. Cada gole de chá traz uma clareza admirável, promovendo reflexões sobre a vida.
A narrativa critica a forma como a sociedade trata o mercado de trabalho, impulsionando uma busca desenfreada pela excelência. As consequências dessa pressão podem levar ao esgotamento físico e mental. É nesse contexto que conhecemos a protagonista.
Se você é apaixonado por jogos do tipo cozy, com uma narrativa envolvente, Wanderstop pode ser uma ótima escolha. Contudo, esteja ciente de que a paciência é necessária, assim como Alta, pois o jogo apresenta uma campanha que dura entre 10 a 16 horas.
Wanderstop leva os jogadores a um momento de profunda introspecção. A história de Alta aborda temas de esgotamento e como a pressão da competitividade pode se tornar prejudicial. O grande destaque do jogo é a narrativa, rica em reflexões e muito bem elaborada. Embora a jogabilidade possa se tornar monótona com o passar do tempo, definitivamente vale a pena explorar essa curiosa loja de chá e conhecer seus visitantes.