A construção de uma nova rodovia de quatro faixas em Belém do Pará, destinada a facilitar o tráfego durante a COP30 (30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima), tem gerado grandes controvérsias. Embora o governo estadual promova a via como uma solução "sustentável" para receber mais de 50 mil visitantes, incluindo líderes globais, ambientalistas e moradores da região expressam preocupações sobre os impactos ambientais desta obra.
A Amazônia é crucial para a absorção de carbono e conservação da biodiversidade, e o desmatamento promovido pela estrada contradiz os objetivos da conferência climática. A rodovia já corta mais de 13 km de floresta, e a presença de escavadeiras e máquinas que acabam com o verde local é um sinal claro do avanço da urbanização na área. Moradores, como Claudio Verequete, relatam os prejuízos diretos em suas vidas. "Tudo foi destruído", lamenta ele, referindo-se à sua antiga fonte de renda, o açaí, que agora não pode mais ser colhido devido ao desmatamento.
Ele ainda menciona a falta de compensação financeira do governo, vivendo agora à mercê de suas economias enquanto teme que o desmatamento se intensifique com a nova acessibilidade da área. "Nosso medo é que um dia alguém chegue aqui e diga: 'Toma esse dinheiro. Precisamos dessa área para construir um posto de gasolina ou um galpão.' E então vamos ter que sair daqui", diz, refletindo sobre o futuro incerto de sua comunidade.
A nova rodovia, nomeada de Avenida Liberdade, foi uma proposta antiga do governo do Estado do Pará, que desde 2012 enxerga sua construção como um legado para a população de Belém. Adler Silveira, secretário de infraestrutura do governo, afirmou que a rodovia terá passagens para a travessia de animais e ciclovias, tentando apresentar a obra como uma solução de mobilidade sustentável.
No entanto, as críticas não se limitam a questões de acessibilidade. Especialistas como a professora Silvia Sardinha, veterinária especializada em vida selvagem, alertam que a construção da rodovia pode trazer sérias consequências para o ecossistema local, fragmentando habitats e reduzindo os locais disponíveis para fauna. "Desde o momento do desmatamento, há uma perda. Vamos perder uma área para soltar esses animais de volta à natureza", destaca.
Apesar de o governo federal destacar a importância da COP30, afirmando que será uma "cúpula histórica na Amazônia", vozes locais insistem que as preocupações dos que realmente habitam a região não estão sendo ouvidas. João Alexandre Trindade da Silva, um comerciante local, acredita que o desenvolvimento trazido pela COP30 será benéfico no longo prazo, mas não sem suas dificuldades. "Esperamos que as discussões não fiquem só no papel e virem ações reais", afirma.
Enquanto alguns moradores veem um potencial de melhora na infraestrutura da cidade, outros lamentam os custos ambientais e sociais. O esperado legado da conferência poderá se transformar em uma responsabilidade pesada se não forem tomadas medidas concretas para equilibrar o desenvolvimento e a preservação ambiental.
A nova estrutura urbanística de Belém inclui investimentos robustos, como a ampliação do aeroporto local e a construção de um parque urbano de 500 mil metros quadrados. Contudo, os desafios permanecem. A pergunta que fica é até que ponto a vinda de milhares de pessoas para a conferência poderá, na prática, comprometer os ideais de sustentabilidade que ela procura promover.