Nesta segunda-feira, um estudo inovador publicado na revista Current Biology trouxe à luz um comportamento fascinante do polvo-de-anéis-azuis (Hapalochlaena fasciata). Os machos dessa espécie utilizam veneno durante o acasalamento para prevenir que as fêmeas os ataquem e devorem.
Conhecida por seu pequeno tamanho e alta toxicidade, essa espécie de polvo se destaca por produzir a tetrodotoxina (TTX), uma neurotoxina potente que é capaz de paralisar suas presas e afastar potenciais predadores. No entanto, a pesquisa revela que essa substância tóxica serve a outro propósito: facilitar o processo de acasalamento e assegurar que os machos consigam escapar sem ferimentos.
De acordo com os achados do estudo, durante o acasalamento, os machos mordem a aorta das fêmeas, liberando doses controladas de TTX que induzem um estado temporário de paralisia na parceira.
Esse efeito é crucial, pois impede que as fêmeas ataquem os machos e, assim, lhes proporciona um tempo adequado para completar a transferência do espermatóforo, que é o pacote de esperma, antes de conseguirem escapar do alcance delas.
Durante esse processo intenso, os machos aumentam consideravelmente sua taxa respiratória, saltando de 20-25 para 35-45 respirações por minuto. Enquanto isso, as fêmeas se encontram em um estado de asfixia induzida, com diminuição da coloração e contração das pupilas. Esse estado pode durar aproximadamente uma hora, e as fêmeas precisam de dias para se recuperar plenamente das lesões na aorta causadas pela mordida.
Notavelmente, os machos apresentam glândulas salivares que são três vezes maiores do que as das fêmeas, o que evidencia a relevância do veneno no processo reprodutivo. Essa necessidade de sedar as parceiras indica que as fêmeas podem ter desenvolvido uma certa resistência à TTX, levando os machos a produzir quantidades ainda mais elevadas da toxina durante o acasalamento.
Embora esse comportamento possa parecer extremo e até mesmo alarmante, é importante notar que os machos não se envolvem em cuidados parentais. Após o acasalamento, as fêmeas se dedicam exclusivamente à proteção dos ovos, o que as força a abrir mão de se alimentar adequadamente, aumentando sua vulnerabilidade.
A descoberta destaca a complexidade das interações reprodutivas no ambiente marinho e ilustra como a evolução moldou comportamentos únicos como este, que visam garantir a sobrevivência da espécie. Será que já podemos considerar isso um dos rituais de acasalamento mais estranhos do reino animal?
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