Mark Carney foi escolhido como o novo líder do Partido Liberal do Canadá após uma disputa interna prolongada para substituir Justin Trudeau. Ele agora se prepara para liderar o partido nas eleições federais, que devem ocorrer antes de outubro, embora possam ser convocadas a qualquer momento. O Partido Conservador, que lidera nas pesquisas, será um adversário forte para Carney. Embora ele assuma imediatamente a liderança do Partido Liberal, Trudeau continuará como primeiro-ministro durante um período de transição que ainda não foi especificado.
Um dos principais desafios que Carney enfrentará será o recrudescimento nas relações com os Estados Unidos. O presidente Donald Trump tem criticado o Canadá, atribuindo-lhe a responsabilidade pela imigração ilegal e ameaçando transformá-lo em um 51º estado. Além disso, ele propôs tarifas elevadas sobre produtos canadenses, alegando que isso é necessário para conter o fluxo de fentanil pelas fronteiras.
Logo após ser eleito, Carney abordou as tensões com os EUA, afirmando que sua administração buscará "criar novas relações comerciais com parceiros confiáveis". Ele também se comprometeu a manter tarifas retaliatórias sobre os produtos americanos até que o governo dos EUA demonstre respeito. Durante sua fala na convenção do Partido Liberal, Carney declarou: "Novas ameaças exigem novas ideias e um novo plano". Ao criticar a política tarifária de Trump, afirmou: "Ele está atacando famílias, trabalhadores e empresas canadenses; não podemos permitir que tenha sucesso". Ele fez uma analogia ao hockey, dizendo: "No comércio, assim como no hóquei, o Canadá vencerá".
As tensões nas relações com os EUA têm se refletido na sociedade canadense, levando a vaias ao hino nacional americano durante eventos esportivos. Carney terá pela frente Pierre Poilievre, líder do Partido Conservador, que tenta dissociar-se de Trump, afirmando em coletiva de imprensa que não é um seguidor do ex-presidente. Em um comício antes da votação liberal, Poilievre criticou Carney, sugerindo que ele não está preparado para lidar com Trump e disse: "Trabalhando para Trudeau, Carney tornou o Canadá mais fraco e pobre".
Rebatendo as críticas de Poilievre, Carney afirmou: "Donald Trump pensa que pode nos enfraquecer com sua estratégia de dividir e conquistar. O plano de Pierre Poilievre nos deixará divididos e prontos para sermos conquistados". Com o recente fortalecimento das posições do Partido Liberal, aos poucos a liderança conservadora tem se mostrado mais vulnerável, especialmente após um período prolongado de dissenso político e descontentamento econômico, acrescido pela renúncia inesperada da vice-primeira-ministra e ministra das finanças, Chrystia Freeland, que também era candidata para suceder Trudeau.
Carney, que iniciou sua carreira no setor financeiro, foi em 2019 nomeado Enviado Especial da ONU para Ação Climática e Finanças. Em sua campanha, ele ressaltou a importância da energia limpa e das políticas climáticas, além de promover a prosperidade econômica do país. Natural de Edmonton, Alberta, Carney mencionou seu papel em auxiliar o governo a gerenciar a dívida durante a crise financeira de 2008 e sua experiência na condução da economia britânica durante o Brexit.
O novo líder do Partido Liberal enfatizou a necessidade de transformar o Canadá em um líder em energia limpa, aproveitando seus recursos naturais, como minerais essenciais. Ele propôs transferir a carga do imposto sobre carbono das pequenas empresas e consumidores para grandes corporações e prometeu, sob sua liderança, substituir o imposto que incide sobre consumidores e pequenas empresas por incentivos para a redução das emissões de carbono.
Carney tem se posicionado de forma firme quanto às tarifas impostas pelos EUA. Em resposta às taxas anunciadas no último mês, ele defendeu tarifas retaliatórias que afetariam os EUA significativamente, mas com impacto mínimo no Canadá. Expressando seu descontentamento pela forma como o Canadá tem sido tratado, Carney declarou à CNN anteriormente que estava "ofendido" devido à longa amizade entre os países. "Nós nos consideramos uma nação orgulhosa e independente. Nós nos vemos como o maior país da Terra. Fomos injustamente insultados por membros seniores do governo dos EUA e não retribuiremos esses insultos".