A União Europeia está em busca de soluções para reter jovens trabalhadores qualificados, promovendo benefícios fiscais como forma de incentivar a permanência desses profissionais na região. Este fenômeno reflete uma preocupação crescente entre os governos europeus diante da emigração de talentos.
Pedro Garcia, um repórter de tecnologia baseado em Lisboa, relatou a história de Duarte Dias, um engenheiro de software que, em 2020, deixou Portugal para aceitar uma oportunidade na subsidiária da Microsoft em Dublin, Irlanda. Dias foi transferido em seguida para a sede da empresa em Seattle, onde continua sua trajetória profissional. Ele recorda que a decisão foi motivada principalmente pela necessidade de garantir um futuro financeiro melhor, uma vez que seus ganhos em Portugal eram limitados. “Simulei quanto dinheiro eu economizaria por ano em Portugal e percebi rapidamente que não iria conseguir ter uma vida financeiramente confortável”, diz Dias.
Antes de emigrar, Dias ganhou cerca de 35 mil euros por ano em Lisboa, mas a carga tributária era alta, comprometendo seu poder aquisitivo. A mudança para a Irlanda significou um aumento significativo na renda, com um salário que quase dobrou. Atualmente, ele ganha mais de US$ 160 mil por ano nos Estados Unidos, onde a alíquota do imposto de renda é bem menor, girando em torno de 20%. Dias planeja voltar a Lisboa em dois anos, “com muito mais economias”.
Portugal, embora um destino atrativo, enfrenta a fuga de sua juventude. Em resposta, o governo lançou o programa IRS Jovem, que oferece redução de impostos para pessoas com menos de 30 anos. A medida foi ampliada pela nova administração, permitindo que trabalhadores de até 35 anos se beneficiem por um período maior. Mais de 73 mil contribuintes já foram atendidos até 2022, e a expectativa é que a nova abordagem beneficie até 400 mil profissionais.
No entanto, especialistas como o professor Sérgio Vasques, da Universidade Católica Portuguesa, afirmam que medidas fiscais isoladas não são suficientes para reter os jovens. Ele ressalta que as oportunidades no exterior são mais atraentes e que o povo português enfrenta uma carga fiscal superior em comparação com outros países desenvolvidos. “É improvável que um jovem profissional decida ficar apenas por conta de 200 euros a mais no final do ano”, afirma Vasques.
A situação não é única de Portugal. A professora Rita de La Feria, da Universidade de Leeds, observa que outros países europeus, como Polônia e Croácia, enfrentam desafios semelhantes com a emigração de jovens. Um estudo aponta que muitos talentos deixam suas nações logo após a formação, buscando melhores oportunidades que não estão disponíveis em seus países de origem.
Antonio Almeida, outro exemplo de profissional qualificado, também deixou Portugal durante a pandemia, buscando melhores salários em Berlim, antes de se deslocar para Bruxelas. Ele destaca que as ofertas em Lisboa eram bem inferiores, dizendo que ofertas de 1,3 mil euros eram comuns, enquanto Berlim oferecia salários de aproximadamente 4,2 mil euros para cargos iniciais. Mesmo com a alta carga tributária na Alemanha, Almeida encontrou um ganho líquido considerável que fez sua mudança valer a pena.
Ao refletir sobre seu futuro, Almeida admite que, embora tenha considerações familiares sobre um possível retorno a Portugal, a perspectiva de manter o estilo de vida que conquistou na Europa Central é muito atrativa. Ele acredita que o verdadeiro problema em Portugal está mais na qualidade dos salários do que na carga tributária. “Os baixos salários em Portugal são uma preocupação significativa”, afirma Almeida.
Essa realidade leva muitos talentos a buscarem alternativas fora do país, e uma melhoria na oferta salarial e nas condições de trabalho pode ser vital para que jovens como Dias e Almeida reconsiderem o retorno. Cada vez mais, a cozinha portuguesa e a cultura familiar são na verdade os únicos fatores que poderiam incentivar um retorno a curto prazo, enquanto a competitividade das ofertas de emprego no exterior continua a ser uma força atraente.
Em resumo, a batalha da Europa para reter talentos qualificados é um tópico crucial que exige um olhar mais atento às políticas locais. As mudanças implementadas, embora positivas, podem ser apenas o começo de um longo caminho para garantir que os jovens profissionais encontrem razões para construir suas vidas em seus países de origem.
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