A CEO da COP30, Ana Toni, expressou apoio à proposta do Brasil de antecipar a reunião de líderes mundiais durante a conferência climática que ocorrerá em Belém. Segundo ela, essa medida proporcionaria mais espaço para as complicadas negociações que cercam o evento. O governo brasileiro fez um pedido à ONU para que a cúpula dos líderes aconteça alguns dias antes da abertura oficial da COP, agendada para o período de 10 a 21 de novembro. Essa antecipação visa aliviar a pressão sobre a rede hoteleira da cidade, que normalmente recebe cerca de 40 mil participantes nesses eventos, levantando dúvidas sobre a capacidade de Belém em acomodar todos.
Em uma entrevista exclusiva para a CNN Brasil, Ana Toni explicou que a proposta não apenas aborda questões logísticas, mas também amplia o número de dias dedicados a negociações climáticas. Esse aspecto é essencial, já que as decisões em todas as edições da COP são tomadas por consenso entre quase 200 nações, e o tempo limitado para debates pode complicar as conversas. "Essa ideia casou com a necessidade de ampliar o espaço de negociações", afirmou Ana Toni, que é também a secretária de Mudanças Climáticas do Ministério do Meio Ambiente do Brasil.
Segundo ela, a lógica por trás dessa antecipação vai além da logística. "O que a gente vem percebendo em todas as COPs é que o encontro dos líderes costuma ser no mesmo dia que começa a COP. Ou seja, a COP não começa naquele dia, porque a maioria dos negociadores está com os seus líderes", explicou. Ana Toni detalhou que isso resulta em um atraso nas negociações, que deveriam iniciar em uma segunda-feira, mas acabam começando apenas na quarta ou quinta-feira, reduzindo assim o tempo disponível para diálogos.
Com vasta experiência no campo ambiental e um histórico notável em negociações de COPs anteriores, Ana Toni destaca que já havia discussões sobre como garantir tempo e espaço para negociações sem que houvesse competição com a reunião dos líderes. "Assim, a gente não estrangula a negociação que duraria os 10 dias", comentou, enfatizando a urgência dessa mudança.
No entanto, a proposta não é unânime, enfrentando críticas por parte de ONGs e organizações que monitoram as questões climáticas. Estas entidades advertem que uma reunião antes da COP poderia afastar os líderes de interações com a sociedade civil, que geralmente só chega para o evento principal. Esse contato direto é crucial, pois permite que organizações exerçam pressão sobre os líderes para que adotem posturas efetivas contra o aquecimento global. Em resposta, Ana Toni assegura que a organização da COP está empenhada em dialogar com entidades da sociedade civil para assegurar que elas tenham a oportunidade de interagir com os líderes.
Além disso, Ana Toni destaca que a pressão sobre os governantes deve ocorrer em diversos locais. "Este é um ano em que os países apresentam suas NDCs (metas nacionais de cada nação para combater as mudanças climáticas). Portanto, os líderes devem sentir a pressão da sociedade civil em seus próprios países enquanto redigem esses documentos. Esperamos ver uma mobilização crescente em nações que ainda não apresentaram suas NDCs", acrescentou. Ela mencionou ainda que a intenção é realizar a reunião em Belém, proporcionando aos líderes a chance de conhecer mais sobre a realidade da Amazônia.