Um novo estudo aponta que o desejo de viajar e conquistar liberdade tem se tornado cada vez mais relevante entre as mulheres brasileiras. Feita com mais de mil entrevistadas, a pesquisa da organização Think Olga mostra uma mudança significativa nas aspirações femininas ao longo das gerações. Casar e ter filhos, que antes eram considerados objetivos essenciais, passaram a ser vistos como secundários por muitas jovens.
A influenciadora Izaura Demari, de 83 anos, simboliza essa transição. Depois de anos cuidando da família, ela agora sonha em conhecer a Itália, terra natal de seu pai. Segundo Izaura, "Depois da morte do meu marido, comecei a viajar mais com meu filho caçula. Peguei gosto e não quero parar". Esta vontade de desbravar o mundo ecoa entre mulheres de todas as idades.
A pesquisa revelou que a viagem representa muito mais que um simples deslocamento físico; para muitas, é uma forma de se libertar das preocupações cotidianas e descobrir novas facetas de si mesmas. A presidente da Think Olga, Maíra Liguori, destaca que "Quando essa mulher se desloca do seu contexto para outro diferente, deixa para trás problemas do cotidiano, coisas que achatam os sonhos, experimenta novas versões de si mesmo, conhece o novo".
Os dados foram comparados entre mulheres de diferentes faixas etárias, permitindo uma análise profunda sobre como os sonhos evoluíram. Para as entrevistadas mais velhas, o casamento e os filhos ainda figuram como sonhos de infância. Em contrapartida, as jovens de 18 a 30 anos estão mais focadas em conquistar uma carreira e desenvolver sua independência, com o desejo de ter filhos, mas sem a necessidade de formar uma família tradicional.
A antropóloga Débora Diniz considera esses resultados impressionantes e esclarece que as novas gerações estão rompendo com o modelo anterior: "Para elas, casar era mais do que um sonho, era um destino". Essa mudança reflete o desejo de viver experiencias culturais, explorar o mundo e acumular conhecimentos, demonstrando um forte desejo de liberdade.
Embora muitos avanços tenham sido feitos ao longo do tempo, as mulheres ainda enfrentam grandes desafios. Juízes apontam que o Brasil é um dos países com as taxas mais elevadas de feminicídio, mostrando que ainda há trabalho a ser feito para garantir a segurança e a libertação feminina. Além disso, as mulheres continuam a dedicar mais de dobro do tempo em tarefas de cuidado da casa, o que dificulta sua ascensão profissional.
A desigualdade salarial também é um fator preocupante, com dados revelando que as mulheres ganham, em média, 19,4% menos que os homens. Na liderança, essa diferença é ainda mais acentuada, alcançando até 25,2%. As mulheres negras enfrentam uma situação ainda mais difícil, com ganhos quase 30% inferiores à média masculina, de acordo com levantamento de 2024.
A pesquisa do Think Olga faz parte de um projeto maior idealizado por Camila Alves, que visa inspirar jovens mulheres a acreditarem em seus sonhos, mostrando exemplos de mulheres de sucesso em diversas áreas. Alves destaca que muitas mulheres mais velhas têm dificuldade em acessar suas aspirações de infância, o que representa um grande desafio. Assim, o projeto incorpora oficinas e atividades que buscam despertar esse olhar para suas trajetórias de vida.
O sonho de Izaura de se tornar uma influenciadora digital aos 76 anos é um exemplo de uma nova realidade. Desde sua infância, ela sempre teve paixão pelos chapéus. Agora, ela busca realizar seu outro sonho: aprender a dançar tango, algo que a acompanhou desde jovem.
Outra história inspiradora é a de Jamile Cruz, que na infância sonhava em se tornar jogadora profissional de vôlei, mas acabou estudando engenharia e hoje é executiva em uma multinacional no Canadá. Jamile comenta: "A experiência profissional fora do país e o aprendizado de novas línguas indicavam o aumento da possibilidade de um futuro melhor". Ela sempre incentiva as meninas a nunca desistirem de seus sonhos e a estarem abertas a novas oportunidades.
As mulheres estão desbravando novos caminhos e seus desejos de liberdade, aprendizado e aventura continuam a crescer. O que podemos concluir é que o sonho de viajar e explorar o mundo e suas culturas está mais vivo do que nunca entre as gerações atuais. E, como dizem, "Nunca pare de sonhar".