Pesquisadores realizaram uma descoberta impressionante no Parque Nacional White Sands, localizado no Novo México, a qual pode transformar a compreensão dos primórdios do transporte. Vestígios de pegadas humanas e marcas de arrasto, datados em cerca de 22.000 anos, sugerem que os antigos habitantes da região utilizavam uma estrutura primitiva para carga, conhecida como travois, assemelhando-se a um trenó rudimentar.
Esse achado é significativo, pois representa a mais antiga evidência de um sistema de transporte humano, ocorrido cerca de 17.000 anos antes da invenção da roda.
O travois consiste em duas longas peças de madeira dispostas em formato triangular ou em "X", sendo uma extremidade puxada pelo chão enquanto a outra é segurada por um indivíduo. Tal estrutura foi amplamente utilizada por diversas culturas indígenas das Grandes Planícies da América do Norte, frequentemente puxada por animais como cães ou cavalos. No entanto, as novas evidências de White Sands indicam que os primeiros humanos transportavam suas cargas manualmente.
A equipe de arqueólogos identificou padrões de marcas de arrasto no solo, classificado em três tipos distintos:
Além das marcas de arrasto, foram encontradas pegadas de diferentes tamanhos, que sugerem que crianças acompanhavam os adultos, possivelmente ajudando no transporte de cargas.
Antes de determinar que tais marcas eram resultados de um travois, os pesquisadores consideraram várias outras explicações. Eles analisaram se as trilhas poderiam ser causadas por:
Essas alternativas foram rapidamente rejeitadas, uma vez que as marcas não correspondiam a padrões naturais observáveis em animais ou fenômenos climáticos. Além disso, as trilhas apresentavam uma padronização e eram frequentemente acompanhadas de pegadas humanas, o que reforçou a hipótese de que os primeiros americanos inovaram com esse método de transporte rudimentar.
A descoberta traz à luz a ideia de que humanos na pré-história já buscavam soluções eficientes para o transporte de objetos pesados. Isso demonstra uma inovação tecnológica bem mais antiga do que se acreditava. Até então, acreditava-se que os sistemas de transporte humano surgiram com a roda, por volta de 5.000 a.C. No entanto, as evidências de White Sands indicam que os primeiros habitantes das Américas já estavam desenvolvendo métodos rudimentares de transporte há mais de 22.000 anos.
O arqueólogo Matthew Bennett, da Universidade de Bournemouth, envolvido no estudo, afirma que há uma grande chance de que vestígios semelhantes possam ser encontrados em outras partes do mundo, mas ainda não identificados como evidências de transporte primitivo.
Essa descoberta não só desafia as concepções clássicas sobre a mobilidade humana, mas também sugere que os primeiros habitantes das Américas chegaram ao continente muito antes do que se pensava, possivelmente por volta de 33.000 anos atrás — muito antes do derretimento das geleiras que, segundo a teoria tradicional, teria permitido a migração.
A evidência de um travois pré-histórico em White Sands oferece uma nova visão sobre como os primeiros humanos movimentavam seus bens e exploravam seu meio ambiente. Se essa descoberta se confirmar, não apenas reescreve a história da tecnologia primitiva, mas também provoca questionamentos sobre quantas outras inovações podem ter sido esquecidas no decorrer do tempo.
Enquanto a humanidade contemporânea depende de veículos avançados e de infraestrutura sofisticada, este achado revela que, desde os tempos mais distantes, a busca por facilitar o transporte de cargas já era uma preocupação dos primeiros exploradores do nosso planeta.