O mercado financeiro brasileiro enfrenta sérios desafios relacionados à presença feminina, onde as mulheres ainda ocupam uma minoria nas posições de liderança e enfrentam disparidades salariais significativas em comparação aos homens. A realidade para muitas profissionais inclui relatos frequentes de assédio, tanto sexual quanto moral, que prejudicam não apenas a autoestima, mas também o desempenho e a estabilidade profissional.
O g1 conversou com várias mulheres que atuam neste setor, além de especialistas em comportamento e carreira, a fim de entender os principais fatores que alimentam uma cultura historicamente masculina e assediadora. Existe uma clara necessidade de transformação, que pode ser impulsionada pela diversidade nas contratações e uma mudança no modo como as empresas se organizam.
Dados recentes revelam que as mulheres representam apenas 15% dos colaboradores na Ável Investimentos, uma empresa que teve sua composição feminina elevada em 650% entre 2021 e 2024, mas que ainda assim revela a falta de equidade em termos de representatividade. Em contrapartida, o mercado financeiro é notório por sua grande disparidade salarial: mulheres ganham em média 68,7% menos que os homens, segundo levantamento do IBGE em 2022.
A disparidade salarial é um dos principais problemas enfrentados pelas mulheres. Embora ocupem a maioria das funções na área financeira, elas são sub-representadas em cargos de decisão. Muitos relatos indicam que as mulheres frequentemente são alocadas em posições que não levam a um progresso na carreira, e muitas sentem que suas contribuições são frequentemente desprezadas em favor de colegas homens.
As dificuldades são especialmente gritantes em papéis como os de gestores de fundos, onde mulheres representam apenas 4,75% do total. A importância de uma maior diversidade de gênero nas posições de liderança é enfatizada por várias pesquisadoras e analistas, que destacam como a presença feminina ainda é insuficiente para combater a cultura do silenciamento e da opressão.
Algumas ações estão sendo propostas para tentar inverter esse quadro. Iniciativas como a formação de mulheres na área de finanças e políticas de promoção que garantam maior equidade foram sugeridas em estudos recentes. Além disso, é fundamental criar canais efetivos para denúncias de assédio e promover uma transparência maior sobre salários e oportunidades.
O que se observa é que a presença de mais mulheres em posições de destaque pode não apenas mudar a dinâmica de trabalho, mas também trazer um impacto positivo em todo o ambiente corporativo. Cada vez mais, o empoderamento feminino no setor financeiro mostra-se essencial para o desenvolvimento de uma cultura mais inclusiva e justa.
Diversas mulheres compartilharam suas experiências, revelando desafios cotidianos. Tatiana Berenguer, por exemplo, relatou que em situações de negócio, frequentemente se depara com tentativas de assédio que obscuram o seu papel profissional. Da mesma forma, Francine Mendes, fundadora da plataforma Elas Que Lucrem, confirmou que a desigualdade no emprego é uma realidade comum, com um destaque para a maneira como o gênero feminino é tratado em comparação ao masculino.
Os relatos são claros: a pressão e o medo de denunciar situações de abuso são comuns em um ambiente que ainda favorece práticas antiquadas. Há uma necessidade urgente de escutar essas mulheres e implementar mudanças significativas nas estruturas corporativas. As companhias devem não apenas oferecer apoio às suas funcionárias, mas também adotar medidas para garantir que esses ambientes de trabalho sejam seguros e justos.
A conscientização de que o comportamento e a atuação das mulheres no mercado de trabalho é um reflexo da sociedade é fundamental. O sistema deve oferecer um suporte real, não apenas simbólico, para que as mulheres que decidem seguir uma carreira na área financeira sintam-se respeitadas e valorizadas.
A maternidade também traz desafios únicos para as mulheres no mercado financeiro. Muitas enfrentam a pressão de equilibrar as responsabilidades familiares com os requisitos de um ambiente de trabalho agressivo, o que frequentemente resulta em dificuldade em progredir na carreira. Essa questão é intensificada pela falta de apoio que muitas mulheres encontram nas empresas, levando algumas a deixar a profissão devido à incompatibilidade entre a vida profissional e familiar.
Conforme observações de especialistas, a cultura corporativa, que até então tem sido dominada por uma perspectiva masculina, precisa ser reavaliada e transformada para que as mulheres possam não apenas participar do mercado de forma igualitária, mas prosperar por meio de suas contribuições e conquistas.
Apesar das dificuldades, há um movimento crescente por mudança. Companhias que priorizam a inclusão de mulheres em posições de liderança demonstram que a diversidade não é apenas uma meta a ser alcançada, mas uma necessidade vital para o progresso do setor. As iniciativas para promover a igualdade de gênero no ambiente de trabalho estão começando a dar frutos, mas ainda há um longo caminho pela frente.
Portanto, a mudança começa com cada um de nós. A ampliação das vozes femininas no mercado financeiro não só enriquecerá a experiência profissional, mas, fundamentalmente, poderá transformar a percepção das futuras gerações sobre o papel das mulheres na economia. Incentivar a participação feminina e criar um ambiente acolhedor e equitativo é fundamental para construir um futuro mais inclusivo para todos.