O mercado de câmbio começou a quarta-feira (26) com leve queda do dólar, que estava cotado a R$ 5,7402, representando uma diminuição de 0,21%. Essa movimentação ocorre em um contexto onde os investidores se mostram cautelosos e antecipam a divulgação de dados sobre o emprego formal no Brasil.
No dia anterior, a moeda dos EUA havia registrado uma alta inicial após a liberação dos resultados do IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15). Contudo, a ascensão foi seguida de uma desaceleração, estimulada pelas declarações do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que indicou perspectivas mais otimistas em relação à agenda fiscal do governo.
Após a divulgação de uma pesquisa evidenciando a queda da confiança do consumidor americano, o dólar passou a mostrar estabilidade, encerrando o dia anterior com uma leve variação negativa, cotado a R$ 5,752.
A diminuição da divisa americana acompanha uma tendência global, já que o dólar se desvalorizou em relação a outras moedas. O índice DXY, que mede o desempenho do dólar contra uma cesta de seis moedas, registrou uma queda de 0,36%, alcançando 106,29 pontos. No acumulado de 2025, a moeda teve uma desvalorização de 6,90% em relação ao real.
Além dos dados de emprego, os participantes do mercado estão atentos a ações do governo Lula que podem acarretar aumentos nos gastos públicos, e às novas declarações do presidente dos EUA, Donald Trump, em relação a tarifas sobre produtos importados.
No cenário da bolsa de valores, o índice Ibovespa apresentou uma alta de 0,46%, fechando aos 125.979 pontos. A empresa Vibra teve um desempenho positivo, destacando-se após a menção de melhorias na rentabilidade do primeiro trimestre. Em contrapartida, as ações de Marcopolo e MRV&Co apresentaram desvalorização, refletindo os resultados financeiros do último trimestre de 2024.
Na segunda-feira (24), o dólar havia fechado em alta de 0,44%, cotado a R$ 5,7545, enquanto o Ibovespa também havia recuado, caindo 1,35% aos 125.401 pontos. Na abertura da sessão de terça, o dólar superou a marca de R$ 5,813, um aumento de cerca de 0,80% no início da manhã.
Fernando Haddad reafirmou a importância de manter o ímpeto das reformas, ressaltando que o governo deve garantir um equilíbrio nas contas públicas. "O comando do presidente é arrumar as contas, mas não podemos de novo fazer o ajuste recair na parte mais fraca da sociedade", declarou durante um evento promovido pelo BTG Pactual.
A pesquisa sobre a confiança do consumidor, que mostrou uma das maiores quedas em três anos e meio, levou os investidores a reconsiderarem suas expectativas sobre um possível corte de juros pelo Fed (Federal Reserve), influenciando negativamente a moeda americana.
A inflação, que também é uma preocupação constante, foi refletida nos dados do IPCA-15, que subiu 1,23% em fevereiro, principalmente devido à elevação nas contas de luz. Esse número é o maior registrado para o período desde 2016, embora ainda esteja abaixo da expectativa do mercado de 5,10% ao ano. Alison Correia, analista de investimentos, observou que a inflação está gerando uma percepção de descontrole de preços.
A meta do Banco Central é estabelecer a inflação em 3%, com uma margem de tolerância de 1,5 ponto percentual. Apesar das expectativas de que a inflação possa aumentar nos próximos meses, o boletim Focus revela que a previsão para o IPCA ao final deste ano aumentou de 5,60% para 5,65%. Para 2026, a previsão subiu de 4,35% para 4,40%.
Correia nota que "estamos chegando perto de 6% para uma expectativa inflacionária no ano. Nossa meta é 4,5%. Isso, sem dúvidas, deixou o mercado mais pessimista". No entanto, o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, anunciou a criação de 100 mil empregos formais em janeiro, número que superou as expectativas de 48 mil vagas. Essa notícia pode reforçar o consumo, o que, por sua vez, tende a pressionar a inflação.
Com um mercado de trabalho em crescimento, o Banco Central pode ser forçado a aumentar a taxa Selic, atualmente em 13,25%, por um período mais prolongado, para controlar a inflação. Correia avisa que o superaquecimento do mercado de trabalho e a liberação de R$ 12 bilhões do FGTS, que disponibilizará recursos adicionais à população, podem intensificar a pressão sobre a inflação.
A liberação dos recursos do FGTS pode resultar em um aumento do consumo, elevando os preços e pressionando ainda mais as decisões do Banco Central em relação aos juros. Além disso, o MEC (Ministério da Educação) deu início ao pagamento de incentivos do programa Pé-de-Meia para alunos que concluíram o ensino médio em 2024, totalizando até R$ 1.200 por aluno.
Fernando Bergallo, diretor de operações da FB Capital, comentou que "a queda de popularidade do governo pode ser um propulsor de mais gastos relacionados a benefícios sociais. Essa é a leitura do mercado. E aí, naturalmente, vem mais receio em relação ao fiscal". A incerteza em torno da continuidade da responsabilidade fiscal tem levado o dólar a alcançar patamares elevados, como os R$ 6,267.