Na pré-história da Espanha, comunidades locais realizavam um ritual marcante, no qual os mortos eram decapitados e suas cabeças estavam transpassadas por pregos grandes. Recentemente, uma pesquisa conduzida por cientistas da Universidade Autônoma de Barcelona revelou que esse rito cumpria duas funções distintas: intimidar inimigos e honrar os ancestrais.
A análise abrangeu crânios da Idade do Ferro, que corresponde ao período entre 1200 a.C. e 550 a.C. A equipe liderada pelo arqueólogo Rubén de la Fuente-Seoane publicou um comunicado a respeito, ressaltando que o objetivo era compreender se essas cabeças decapitadas eram mantidas como troféus de guerra ou se serviam como uma forma de veneração.
A investigação, cujos resultados foram divulgados na revista científica Journal of Archaeological Science, utilizou a análise de isótopos de estrôncio para determinar a origem dos crânios de sete indivíduos decapitados encontrados em sítios arqueológicos. Este elemento se acumula em dentes e ossos durante o desenvolvimento, refletindo a dieta da pessoa e, consequentemente, seu local de residência.
Os dados mostraram que três dos quatro crânios encontrados em Puig Castellar pertenciam a indivíduos não-locais, enquanto apenas um dos três crânios do sítio de Ullastret era de uma pessoa de fora. Esses dois locais, situados a cerca de 100 km entre si, continham cidades antigas que foram abandonadas logo após a Segunda Guerra Púnica, por volta do século III a.C., quando os romanos avançaram na região.
Os achados sugerem que o ritual de decapitação e a fixação das cabeças eram realizados de formas distintas em cada local, demonstrando uma complexidade maior do que se previa anteriormente.
No sítio de Puig Castellar, as cabeças estavam posicionadas acima ou próximas às antigas muralhas, indicando que foram fixadas como um símbolo de poder sobre um grupo externo. Em contrapartida, as cabeças encontradas no sítio de Ullastret estavam em áreas residenciais, sugerindo que foram penduradas dentro ou fora das casas para honrar pessoas significativas na comunidade.
Estes resultados se alinham com registros históricos feitos por autores da Grécia e Roma, que descreviam práticas similares entre os gauleses do sul da França, conhecidos por cortarem as cabeças de inimigos e as guardarem em caixas. Também havia relatos sobre mercenários ibéricos que empalavam as cabeças de seus adversários em lanças.
Os pesquisadores pretendem realizar análises adicionais para aprofundar o entendimento sobre essa peculiar prática de pregar cabeças, visando elucidar mais aspectos sobre seus significados e impactos sociais nas sociedades antigas da Espanha.
Esse estudo não apenas revela a rica história cultural da Espanha, mas também convida à reflexão sobre como os rituais e práticas sociais moldam a identidade e a interação entre as comunidades ao longo do tempo.
Para mais informações sobre a história e os rituais da Espanha antiga, fique atento às novidades e aos estudos que estão sendo realizados.