Os preços das carnes no Brasil estão em alta, e a expectativa é que essa tendência continue nos próximos meses. Durante sua campanha eleitoral, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) prometeu que restauraria o poder de compra dos brasileiros, mencionando a importância de voltar a consumir churrasco, com frases como: "O povo tem que voltar a comer um churrasquinho, a comer uma picanha e tomar uma cervejinha", como destacou em uma entrevista ao Jornal Nacional em 2022.
Entretanto, a realidade tem mostrado um cenário diferente. Nos últimos 12 meses, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a principal medida da inflação, registrou uma alta de 4,56%. Dentro desse contexto, as carnes se destacam com um aumento impressionante de 21,17%. Apesar das críticas direcionadas ao governo, especialistas afirmam que a elevação dos preços das carnes ocorre por uma série de fatores interligados.
Entre as razões, o economista-chefe da Leme Consultores, José Ronaldo de Souza, aponta para o aquecimento da economia nacional e um crescimento robusto de 23,4% nas exportações de carnes. Essa ascendência nas vendas externas explica-se pelo aumento da demanda, especialmente dos Estados Unidos e da China, além da desvalorização do real, que facilitou as exportações de carne brasileira.
Além do efeito cambial, o agrônomo José Giacomo Baccarin, um dos fundadores do Instituto Fome Zero, observa que a desvalorização do real (que chegou a 27% no último ano) foi crucial. Essa situação aumentou o incentivo para o comércio de carnes para o exterior e, consequentemente, impactou os preços internos.
A demanda interna também desempenha um papel no aumento dos preços. José Carlos de Souza Filho, economista da FIA Business School, complementa que a melhora nas condições do mercado de trabalho e os estímulos fiscais também contribuíram para o crescimento nos preços das carnes. Além disso, ele menciona o ciclo da pecuária, que é caracterizado por flutuações de preços que ocorrem em períodos alternados, o que também pode ter influenciado a alta.
Com toda essa dinâmica, o governo enfrenta a pressão da população, insatisfeita com os preços elevados. Em uma tentativa de resposta, Lula sugeriu que os cidadãos evitem comprar produtos considerados muito caros. Essa sugestão foi interpretada como infeliz, especialmente em um contexto de alta de preços de alimentos, e pode ter impactado negativamente a percepção pública sobre o governo. Uma pesquisa recente do Datafolha revelou que a aprovação de Lula caiu de 35% para 24% em um intervalo de apenas dois meses, atingindo o menor índice de seus três mandatos presidenciais. A desaprovação do governo também subiu de 34% para 41%. Além da alta nos preços, a chamada "crise do Pix" ajudou a sinalizar a queda na popularidade do presidente. O levantamento, que ouviu 2.007 eleitores entre 10 e 11 de fevereiro em 113 cidades brasileiras, indicou que 32% dos entrevistados consideram o governo regular, um aumento de três pontos percentuais em relação à pesquisa anterior.