As eleições que ocorrem neste domingo (23/02) na Alemanha representam um momento decisivo para o país. Com as urnas abertas até as 18h (14h no horário de Brasília), a população se prepara para escolher um novo governo em um cenário de crises políticas e econômicas.
A Alemanha encara uma economia estagnada, agravada por um contexto internacional hostil, em parte devido às mudanças na política externa dos Estados Unidos sob a administração de Donald Trump. Além do surgimento da extrema-direita, que desafia antigas convicções políticas, os alemães sentem a necessidade de transformações profundas e urgentes.
Segundo pesquisas, a União Democrata-Cristã (CDU), liderada por Friedrich Merz, é a favorita para vencer as eleições, seguida pela Alternativa para a Alemanha (AfD), que pode alcançar resultados históricos. O Partido Social Democrata (SPD), sob a liderança de Olaf Scholz, enfrenta uma queda acentuada nas intenções de voto, resultado das divisões em seu governo de coalizão.
A recente reeleição de Donald Trump trouxe mudanças drásticas para a política externa dos EUA, forçando a Alemanha e seus aliados da Otan a revisar suas estratégias. Trump, conhecido por criticar a falta de gastos em defesa dos países europeus, desafiou as garantias de segurança que a Alemanha tinha de sua aliança com os Estados Unidos.
O discurso do vice-presidente americano, J. D. Vance, em Munique, gerou desconforto entre os líderes alemães, culminando em uma crítica direta do ministro da Defesa do país, Boris Pistorius, que chamou as falas de "inaceitáveis". Karl-Heinz Kamp, da Academia Federal Alemã para Políticas de Segurança, afirmou que o modelo de segurança fornecido pelos EUA durante anos chegou ao fim.
As lições trazidas pela invasão da Ucrânia em 2022 forçaram a Alemanha a aumentar seus gastos em defesa, rompendo um longo histórico pacifista. A maioria da população apoiou essa mudança, mas há preocupações sobre como conciliar o aumento dos gastos militares com a necessidade de revitalizar a economia.
A Alemanha já foi considerada a "locomotiva da Europa", destacando-se por sua força industrial e crescimento robusto. Contudo, o país enfrenta uma estagnação econômica, com o produto interno bruto (PIB) reduzido em 0,3% em 2023 e previsões de crescimento tímido para 2024.
O economista Wolfgang Münchau mencionou que o "milagre alemão" chegou ao fim, atribuindo isso à dependência crescente do gás russo e à falta de investimentos em infraestrutura digital e inovação. A indústria automotiva do país, outrora forte, agora se vê superada por concorrentes mais ágeis, principalmente na produção de veículos elétricos.
Os elevados custos de energia e a inflação têm pressionado a população, especialmente após o aumento dos preços de combustíveis decorrente da guerra na Ucrânia. Apesar dos desafios, a Alemanha possui uma força de trabalho qualificada e uma dívida pública reduzida, o que pode oferecer espaço para futuras reformas.
A decisão da ex-chanceler Angela Merkel em 2015 de abrir as fronteiras para refugiados da guerra na Síria teve consequências complexas para a sociedade alemã. Mais de 2 milhões de imigrantes chegaram naquele ano e, apesar de ajudarem a equilibrar a demografia do país, as dificuldades de integração têm gerado tensões sociais.
O índice de aceitação da imigração na Alemanha caiu de 7,1 em 2016 para 6,4 em 2023, refletindo um aumento no sentimento anti-imigração entre a população. Essa mudança de postura fortaleceu a AfD, que rivaliza com os partidos tradicionais nas eleições e continua a atrair apoio significativo.
Diana Luna, da Fundação Friedrich Naumann para a Liberdade, comentou que a resposta à migração deve ser uma das prioridades do novo governo. Para ela, se o novo governo for capaz de implementar políticas eficazes que gerem empregos e integrem os imigrantes, há uma chance de desestabilizar a crescente influência da direita radical, especialmente na antiga Alemanha Oriental, onde seus apoiadores são mais expressivos.
O novo governo terá a tarefa crucial de unir esforços e liderar a Alemanha rumo a um futuro que respeite a democracia e promova a prosperidade econômica. Com a formação de uma coalizão ainda incerta, o futuro do país depende das decisões que serão tomadas nos próximos dias.
Os cidadãos alemães esperam que as eleições levem a um novo período de estabilidade política e renovação econômica, permitindo ao país encontrar um caminho eficaz para enfrentar os desafios contemporâneos.
O futuro da Alemanha está nas mãos dos votantes. À medida que as urnas são fechadas, a expectativa é alta para o que vem pela frente.