O IBC-Br, um indicador de atividade que reflete a economia brasileira, apresentou uma queda de 0,73% em dezembro, superando as expectativas do mercado que previam uma retração de 0,4%. Essa diminuição sugere um cenário de desaquecimento para a economia, embora o PIB ainda tenha registrado um impressionante crescimento de 3,8% em 2024.
Rafael Perez, economista da Suno, destaca que o desempenho do IBC-Br no último mês do ano foi afetado por recuos generalizados nos diversos setores. O setor de serviços teve uma redução de 0,5%, enquanto o varejo e a indústria apresentaram quedas de 0,1% e 0,3% respectivamente. Em 2024, a economia se beneficiou de fatores como a taxa de desemprego em níveis historicamente baixos, aumento dos salários e expansão significativa dos benefícios sociais. Contudo, no último trimestre, já havia sinais de esgotamento desses impulsos, influenciados por uma política fiscal e monetária mais restritivas.
O economista prevê que o PIB continuará mostrando crescimento no primeiro trimestre de 2025, impulsionado pela safra recorde de grãos, principalmente de soja, cuja produção é concentrada entre janeiro e março. "No entanto, esse efeito positivo será temporário e os setores mais cíclicos da economia devem perder força durante o ano, devido à inflação elevada e condições financeiras mais restritivas", afirma Perez, antecipando uma desaceleração do crescimento do PIB para 1,9% em 2025.
Além disso, a XP elaborou um relatório que destaca que, apesar de o PIB ter crescido em 2024, existem indícios de fraqueza nas atividades econômicas. O banco afirma que o indicador permaneceu estável no quarto trimestre em comparação ao terceiro, encerrando uma sequência de quatro trimestres consecutivos de ganhos. Na comparação entre dezembro de 2023 e 2024, houve um aumento de 2,4%, inferior às projeções anteriores. A XP também aponta que o efeito estatístico para o primeiro trimestre de 2025 é negativo, prevendo uma queda de 0,4% em relação ao trimestre anterior, mas com uma expectativa de crescimento de 0,3% para 2025.
As previsões para o PIB em 2025 variam nas análises dos economistas. Tatiana Pinheiro, economista-chefe da Galapagos Capital, reflete que as consequências do aperto monetário ainda não estão claras. Para que isso impacte as decisões do Banco Central, a queda nos dados econômicos precisa ser mantida. Pinheiro indica que há expectativa de um aumento de 100 pontos-base na taxa Selic em março, levando a um fim do ciclo de alta em maio, com a Selic alcançando 15%.
Matheus Pizzani, da CM Capital, reitera que a queda no IBC-Br, embora abaixo das expectativas, não foi uma surpresa tendo em vista os dados setoriais que já indicavam um cenário negativo. Ele afirma que o desempenho do ano passado deixou uma incerteza sobre quão intensa será a desaceleração em 2025. A queda no volume de vendas de bens e serviços em dezembro pode sinalizar uma redução no hiato do produto, ou seja, a diferença entre o PIB potencial e o efetivo, que foi uma das razões para a alta da taxa de juros pelo Banco Central.
Pizzani também fala sobre o impacto do ciclo negativo na oferta da economia. A atenção se voltará para como se comportarão os setores de serviços e o mercado de trabalho, pois esses podem impactar as decisões do Copom. Caso o crescimento do indicador se origine de setores com pouca relação com os ciclos econômicos, as interpretações sobre o hiato do produto mudarão, especialmente em comparação ao que foi observado no último ano.
Por fim, a análise do Banco Pine sugere que o resultado de dezembro reflete um padrão de desaceleração nos indicadores da indústria, comércio e serviços. A previsão preliminar para o PIB em 2025 é de um crescimento entre 2,0% e 2,5%, considerando o aperto das condições financeiras e a pressão fiscal negativa.