O debate sobre a desaceleração da economia brasileira ganhou destaque devido às diversas metodologias utilizadas para estimar o Produto Interno Bruto (PIB) potencial. Essas diferenças geram resultados significativos, levando especialistas e autoridades a questionarem qual seria a desaceleração necessária para reduzir a pressão inflacionária no país.
A Secretaria do Tesouro Nacional, vinculada ao Ministério da Fazenda, participou de uma série de estudos sobre o PIB potencial, incluindo análises de instituições como o Banco Central, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e a Fundação Getúlio Vargas (FGV/Ibre). Esses levantamentos revelam divergências notórias nos números e metodologias utilizáveis, refletindo um cenário complexo para entender o estado da economia brasileira.
Uma economia é considerada aquecida quando o hiato do produto está positivo, ou seja, quando o PIB efetivo supera o potencial. Isso significa que a economia está operando acima de sua capacidade normal, resultando em pressões inflacionárias. Para que a situação mude, é necessário que o PIB cresça a uma taxa inferior ao seu potencial. Essa desaceleração, entretanto, depende da estimativa do PIB potencial, um indicador que não pode ser observado diretamente.
De acordo com a Secretaria de Política Econômica (SPE), as projeções indicam um PIB potencial de 2,4% para 2023 e 2,3% para 2024. Por outro lado, o Banco Central apresenta uma estimativa mais otimista, com 3,1% para 2023 e 2,4% para 2024. Em uma perspectiva menos favorável, a FGV/Ibre prevê um potencial de apenas 0,65% para 2023 e 0,63% para 2024. A OCDE, por sua vez, estima crescimento em torno de 1,8% para 2023 e 1,9% para 2024. Entretanto, o crescimento do PIB para 2024 é projetado em cerca de 3,5%.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, expressaram que o crescimento atual está excedendo o potencial, sugerindo que um ajuste é necessário na taxa de crescimento, idealmente para próximo de 2,5%. Recentemente, a SPE revisou sua projeção para o PIB de 2025 de 2,5% para 2,3%.
O economista Gabriel Leal de Barros, da ARX Investimentos, afirmou que a estimativa da OCDE está alinhada com sua própria projeção, que varia entre 1,5% e 1,8% para o PIB potencial. Ele aponta que a desaceleração necessária, segundo seus cálculos, seria de 1,7%, considerando um PIB de 3,5% para 2024 e um potencial de 1,8%.
O economista Marcos Mendes questiona a possibilidade de um crescimento potencial de 3%, embora reconheça que o Brasil tem crescido a essa taxa nos últimos anos. Ele adverte sobre os limites de capacidade ociosa da economia, que levarão a pressões inflacionárias e a um aumento nas importações. Mendes também observa os efeitos da forte expansão fiscal desde 2023, que contribuem para essa pressão inflacionária.
As estimativas sobre o PIB potencial apresentam grande dispersão e evidenciam expectativas desancoradas, criando um cenário que pode exigir uma desaceleração acentuada da atividade econômica. O economista-chefe da Leme Consultores, José Ronaldo Souza Júnior, destaca que, apesar da projeção otimista do Banco Central, o hiato do produto elevado aponta para um possível superaquecimento, indicando a necessidade de um forte ajuste monetário.
Em sua análise, Souza Júnior ressalta que o cálculo do PIB potencial é influenciado pelo modelo econômico escolhido, levando a diferenças nas estimativas apresentadas por diferentes instituições. Enquanto algumas abordagens se concentram na relação entre a atividade econômica e a inflação, outras consideram fatores estruturais como a qualidade da mão de obra e o estoque de capital.
Por fim, o economista destaca que o potencial de crescimento do Brasil é limitado, em parte, pela baixa taxa de investimento. Embora tenha havido um aumento nos investimentos nos últimos trimestres, o patamar geral ainda é considerado insuficiente para elevar o crescimento potencial do país.