A Polícia Civil de São Paulo está investigando uma possível ligação entre a morte de Vitor Medrado, um ciclista de 46 anos, e o latrocínio que vitimou o delegado Josenildo Belarmino de Moura Júnior, de 32 anos. Medrado foi baleado na semana passada nas proximidades do Parque do Povo, localizado no Itaim Bibi, zona oeste da capital. A ação policial ocorrida na manhã desta terça-feira resultou na prisão de Suedna Barbosa Carneiro, de 41 anos, apontada como uma potencial financiadora de crimes de roubo. Ela foi detida em Paraisópolis, na zona sul, e é comumente referida na região como "Mainha do Crime". A defesa de Suedna não pôde ser contatada até o momento.
Suedna é acusada de fornecer armamentos para um grupo formado por pelo menos sete criminosos, atuando praticamente como uma locadora de armas, além de adquirir os produtos roubados, que incluem joias e celulares. As autoridades suspeitam que essa quadrilha esteja envolvida em assaltos armados em diversos locais da capital, incluindo Brooklin e Pinheiros. "Através de nossa investigação, identificamos cerca de sete ou oito indivíduos que comumente assaltam em conjunto, partindo da favela de Paraisópolis, e Suedna seria a compradora dos itens roubados", relatou o delegado Marcel Druziani, do 11º Distrito Policial (Santo Amaro).
O delegado descreve Suedna como uma figura central e líder do grupo criminoso. Sua prisão é resultado de uma investigação que começou um mês após a morte do delegado Moura Júnior. Conforme relatado anteriormente, Moura Júnior foi morto em 14 de janeiro enquanto caminhava pela Rua Amaro Guerra, em uma tentativa de assalto. Ele recebeu quatro tiros: dois nas costas, um no braço e outro na garganta. "É muito triste, não temos palavras para descrever", lamentou o secretário-executivo da Segurança Pública, delegado Osvaldo Nico Gonçalves.
"Em relação ao delegado, temos certeza da ligação com a quadrilha de Suedna, e há indícios de uma forte conexão com o caso do ciclista", afirmou Druziani durante uma coletiva de imprensa após a prisão. "As evidências são contundentes, mas a perícia ainda precisa ser realizada, pois encontramos três armas na casa dela: uma pistola e dois revólveres." O segundo caso está sob investigação do 15º Distrito Policial (Itaim Bibi), mas Druziani informou que pretende compartilhar informações relevantes que possam ser obtidas a partir das apreensões.
Medrado foi baleado pouco depois das 6 horas da manhã da última quinta-feira, 13, na Rua Brigadeiro Haroldo Veloso. Ele estava pedalando quando foi abordado por dois assaltantes e foi atingido à queima-roupa antes que pudesse reagir. Seguindo as investigações após a morte de Moura Júnior, várias equipes integraram esforços para monitorar a movimentação de motos envolvidas em crimes de roubo. "Utilizando sistemas de câmeras como o SmartSampa e outros recursos, conseguimos acompanhar essas motos suspeitas", disse Druziani. Durante este trabalho, foram identificados indivíduos que saíam de Paraisópolis para realizar os roubos e retornavam com os itens furtados.
Embora os autores dos crimes ainda não tenham sido localizados, a polícia considera Suedna uma participante crucial nos roubos. Em sua residência, foram apreendidos três armas de fogo, mochilas, capacetes e outros equipamentos possivelmente utilizados em suas atividades criminosas. A investigação sugere que Suedna alugava esses materiais para os bandidos. "Esses criminosos utilizam de oito a nove motos, alteram os veículos e trocam equipamentos. O esquema é complexo", enfatiza o delegado.
Durante a operação, a polícia encontrou R$ 21 mil em espécie, além de 18 celulares e diversos equipamentos eletrônicos que agora passarão por uma análise detalhada. Druziani enfatizou que Suedna é uma figura econômica relevante para o grupo criminoso: "Ela financia as operações. Sem a sua participação, esses ladrões teriam dificuldade para realizar os roubos". O delegado ainda apontou que uma das armas apreendidas pode estar ligada à morte de Moura Júnior, mas a confirmação depende de exames balísticos. Além disso, há indícios de que um dos capacetes encontrados tenha sido utilizado na abordagem ao delegado.
As investigações também incluem a possibilidade de que a quadrilha de Suedna tenha relação com o caso de uma médica que foi assaltada na Avenida Doutor Francisco de Paula Vicente, no bairro Continental. A médica de 67 anos, Marília de Godoy Dalprá, foi agredida enquanto se exercitava na madrugada do sábado, 15, sendo abordada por dois homens em uma moto. Durante a ação, um dos assaltantes chegou a morder o dedo dela ao tentar roubar sua aliança.
De acordo com Druziani, Suedna admitiu que as armas apreendidas eram todas suas. "Ela reconhece que os capacetes e celulares são roubados, mas nega qualquer participação no fomento do crime. Entretanto, sua conduta demonstra claramente o contrário", disse o delegado. "Quando ela aluga armas, fornece armamentos e compra os produtos do roubo, ela não apenas fomenta, mas participa ativamente da criminalidade." Recentemente, dados da Secretaria da Segurança Pública revelaram que os casos de latrocínio em São Paulo aumentaram 23,2% em 2024, em comparação a 2023, enquanto outras modalidades de crime, como roubos e furtos, apresentaram queda.