BRASÍLIA - Em uma reviravolta nas investigações políticas, a delação do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), destacou a divisão entre os conselheiros do então presidente após sua derrota nas eleições de 2022. Os conselheiros foram categorizados em três grupos distintos: 'radicais', 'conservadores' e 'moderados'.
No grupo mais extremista, que defendia ações agressivas para contestar o resultado eleitoral e promover um golpe de Estado, estavam a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP). Vale ressaltar que ambos não foram formalmente denunciados pela Procuradoria-Geral da República.
Além dos familiares de Bolsonaro, o grupo radical compreendia também figuras proeminentes como o ex-ministro Onyx Lorenzoni, o senador Jorge Seif (PL-SC), o ex-ministro Gilson Machado, o senador Magno Malta (PL-ES) e o general Mário Fernandes. Assim como os Bolsonaro, esses conselheiros não foram alvo de denúncias pela PGR.
Cid detalhou que esse núcleo mais radical continha uma subdivisão composta por membros 'menos radicais', que buscavam encontrar 'elementos concretos' que comprovassem fraudes nas urnas eletrônicas. Neste subgrupo estavam o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, o senador Luiz Carlos Heinze (PP-RS), o major da reserva do Exército Angelo Martins Denicoli, o general Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde, além de um grupo de assessores técnicos que forneciam informações sobre supostas fraudes. Conforme Mauro Cid, 'o presidente repassava as possíveis denúncias para os generais Pazuello e Paulo Sérgio para que fossem apuradas'. No entanto, a maioria das alegações era explicada por fundamentos estatísticos.
O grupo conservador, em contraste, incluía o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), o ex-chefe da Advocacia-Geral da União Bruno Bianco, o senador Ciro Nogueira (PP-PI) e o brigadeiro Batista Junior, que era comandantes da Aeronáutica na época. Segundo Cid, esses conselheiros aconselhavam Bolsonaro a desmobilizar seus apoiadores que se concentravam em frente a instalações do Exército e a se posicionar como uma figura de liderança da oposição.
Por fim, a ala 'moderada' era composta predominantemente por generais em atividade que, apesar de suas discordâncias quanto ao caminho político adotado pelo Brasil, acreditavam que o resultado das eleições não poderia ser contestado. Cid destacou que essa perspectiva refletem o entendimento de que tentativas de ação 'em outro sentido' representariam um 'golpe armado' que poderia estabelecer um regime militar por um longo período, abrangendo 20 ou 30 anos.
Entre os moderados, estavam o então comandante do Exército, general Freire Gomes, o chefe do Departamento de Engenharia e Construção, general Arruda, o chefe do Comando de Operações Terrestres, general Teófilo, e o ministro da Defesa, general Paulo Sérgio. Também faziam parte deste grupo alguns que recomendaram a Bolsonaro a saída do país, como o empresário Paulo Junqueira, que ajudou a financiar a ida do presidente aos Estados Unidos, e Nabhan Garcia, que ocupava o cargo de secretário de Assuntos Fundiários do Ministério da Agricultura.