Transformada em uma nova tendência entre praticantes de musculação, a tadalafila, remédio destinado ao tratamento da disfunção erétil, vem sendo utilizado como pré-treino nas academias. Os defensores dessa prática acreditam que a substância pode contribuir para o aumento do ganho muscular. Contudo, especialistas alertam para a falta de evidências científicas que respaldem essa utilização e para os possíveis riscos à saúde associados ao seu uso.
A popularização do uso da tadalafila como um "dica secreta" nas redes sociais e a facilidade de acesso ao medicamento, que pode ser adquirido sem receita médica, são fatores que incentivam esse comportamento. No entanto, é fundamental entender melhor o que é a tadalafila e como ela atua no organismo.
A tadalafila é classificada como um inibidor da enzima PDE5 (fosfodiesterase tipo 5), cuja atuação leva ao relaxamento dos músculos lisos e à dilatação dos vasos sanguíneos. Ao aumentar o fluxo sanguíneo, esse medicamento facilita a ereção em homens que enfrentam dificuldades nesse aspecto. Além disso, pode ser indicado para pacientes que sofrem de hipertensão pulmonar.
O uso da tadalafila como pré-treino é justificado por sua capacidade de promover a vasodilatação, o que teoricamente aumentaria o fluxo sanguíneo para os músculos durante o exercício. A farmacêutica Margareth Cunha, coordenadora do curso de farmácia do Centro Universitário Braz Cubas, explica: “Isso pode melhorar a oxigenação e a entrega de nutrientes, potencialmente favorecendo a recuperação muscular e a impressão de maior 'bomba' muscular durante o treino”.
No entanto, Margareth ressalta que “não há evidências científicas sólidas que comprovem ganhos significativos de hipertrofia muscular ou performance esportiva com o uso da tadalafila”.
Essa perspectiva é reforçada pelo médico Ronan Araujo, especialista em nutrologia e membro da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (ABESO). “A dilatação dos vasos sanguíneos pode dar a [falsa] sensação de músculos mais cheios e vascularizados, que muitos praticantes associam ao crescimento muscular. Mas isso não significa que houve um real aumento de hipertrofia”, afirma Araujo.
Além da impotência do medicamento em contribuir para o aumento da massa muscular, o uso contínuo da tadalafila pode representar riscos significativos à saúde, principalmente entre os jovens. Dentre os efeitos colaterais mais comuns, destacam-se:
Adicionalmente, o uso regular sem supervisão médica pode levar a uma dependência psicológica para desempenho sexual e, em casos mais críticos, mascarar problemas cardiovasculares subjacentes.
Em casos extremos, o uso desenfreado da tadalafila eleva os riscos de infarto e AVC (acidente vascular cerebral) devido ao aumento da sobrecarga cardiovascular, especialmente em indivíduos com histórico de problemas cardíacos.
Embora a ideia de usar a tadalafila como um atalho para o ganho de massa muscular possa parecer atraente, especialistas enfatizam que o mais eficaz é seguir a rotina de treinos de musculação e adotar uma dieta equilibrada. Melhorar os hábitos alimentares e o treinamento físico são as formas mais seguras e efetivas de alcançar um físico desejado.
Por isso, é crucial repelir a ideia de que medicamentos como a tadalafila possam substituir um estilo de vida saudável. A busca por melhorias na forma física deve ser sempre acompanhada de cuidados, acompanhados por profissionais da saúde.