Na quinta-feira (13), Deise Moura dos Anjos, principal suspeita de envenenar quatro membros da família de seu marido, foi encontrada sem vida em sua cela na Penitenciária Estadual Feminina de Guaíba. A tragédia ocorreu um dia após a surpreendente notícia de que seu cônjuge buscaria o divórcio. Antes de sua morte, ela deixou uma carta na qual mencionou ter realizado "coisas impensadas".
O delegado Fernando Sodré, chefe da Polícia Civil do Rio Grande do Sul, declarou em entrevista ao Terra que as evidências sugerem um suicídio, embora um laudo do Departamento Médico Legal esteja em andamento para confirmar as causas da morte. De acordo com Sodré, a carta deixada por Deise reforça essa tese.
"Ela deixou vestígios, deixou umas cartas, são uns escritos, que não sei se ela pensava em remeter para alguém, ou deixar para alguém. Não foi uma coisa muito elaborada, mas é muito grande. Nós praticamente não temos dúvida que se trata de suicídio, só estamos esperando o laudo", explicou o delegado.
A mensagem deixada por Deise menciona sua luta contra a depressão e traz justificativas sobre seu envolvimento no envenenamento da família. "Essas ditas cartas que ela escreveu, de certa forma, também acabam corroborando um pouco isso. Porque ela disse que não pode desfazer o passado, que ela comprou [o arsênio usado no bolo], mas que ela não usou, que ela botou fora. Que ela estava em depressão e por isso que ela fez coisas impensadas e daí vai", revelou Sodré.
A Polícia Civil ressaltou que a morte de Deise não altera as investigações sobre o caso do bolo envenenado, que continuam sob responsabilidade da delegacia de Torres. Contudo, devido ao falecimento da principal suspeita, não haverá indiciamento.
A investigação indica que Deise teria utilizado arsênio para contaminar a farinha destinada a um bolo, que foi servido na véspera do Natal do ano passado em Torres, no litoral norte do Rio Grande do Sul. Sete familiares consumiram o bolo e sofreram sérios problemas de saúde. No mesmo dia, três mulheres perderam a vida em decorrência da intoxicação: Tatiana Denize Silva dos Anjos e Maida Berenice Flores da Silva faleceram devido a paradas cardiorrespiratórias, enquanto Neuza Denize Silva dos Anjos morreu em decorrência de um "choque pós-intoxicação alimentar".
Além disso, Deise também estava sob investigação pela morte de seu sogro, Paulo Luiz dos Anjos, que faleceu em setembro ao ingerir bananas e leite em pó que ela havia trazido. A polícia acredita que sua sogra, Zeli dos Anjos, seria o alvo principal do envenenamento, uma vez que sobreviveu após semanas internada, recebendo alta em janeiro deste ano. Uma criança de 10 anos que também consumiu o bolo envenenado foi liberada do hospital na sequência.
As autoridades afirmam ter evidências suficientes que apontam Deise como a única responsável pelos crimes. "Nós não temos dúvida, tem toda a ligação entre as encomendas do veneno, o recebimento do veneno, os horários, os dias que ela esteve nos lugares. Então, da nossa parte, nós não temos dúvida. Ela era a autora responsável pelos crimes e ia ser indiciada, só não vai ser indiciada porque se matou", declarou Sodré.
Com a morte da suspeita, a Polícia Civil planeja encerrar o inquérito e encaminhar o relatório final à Justiça no dia 20 de fevereiro, conforme os procedimentos padrões em casos desse tipo.