O economista francês Gabriel Zucman, conhecido por suas propostas de taxação sobre as grandes fortunas, defendeu que o Brasil deveria adotar uma postura mais firme diante das tarifas sobre o aço e o alumínio impostas pelo presidente Donald Trump. Em entrevista à CNN Brasil, Zucman sugeriu a implementação de um imposto sobre oligarcas americanos como uma alternativa mais eficaz e direcionada.
Segundo Zucman, essa medida, que ele denomina de tarifas para oligarcas, quer visa aplicar taxas específicas sobre grandes empresas multinacionais dos Estados Unidos que atuam globalmente, bem como seus proprietários super-ricos. Ele argumentou que essa abordagem é preferível a uma retaliação que aumentaria tarifas em vários setores da economia brasileira.
“A melhor resposta para as ameaças comerciais de Trump é criar taxas direcionadas”, afirmou Zucman. Ele destacou que tarifas retaliatórias tradicionais podem provocar inflação e desacelerar o crescimento econômico, impactando não apenas o país que as impõe, mas também os que são alvo dessas tarifas.
O economista enfatizou a importância de condicionar a entrada dos produtos de empresas controladas por bilionários americanos no mercado brasileiro à cobrança de taxas sobre a fortuna desses proprietários. Isso significa que, ao invés de elevar tarifas de importação, o Brasil poderia exigir que bilionários como Elon Musk pagassem um valor mínimo de impostos para acessar o mercado nacional.
Exemplificando sua proposta, Zucman mencionou a Tesla: “Se a Tesla deseja vender produtos no Brasil, nós podemos determinar que tanto a empresa quanto seu proprietário precisam honrar suas obrigações fiscais aqui”, disse ele, reiterando a possibilidade de estabelecer condições mais justas no comércio internacional.
O economista também argumentou que essa estratégia fortalece a posição de países emergentes no cenário global. Ele destacou que existe uma ideia equivocada de que nações menores não têm poder diante dos Estados Unidos. “Os EUA possuem uma fraqueza significativa, que é sua oligarquia muito internacionalizada”, afirmou Zucman, sublinhando que essa estrutura oferece oportunidades para que países como o Brasil imponham taxas comerciais que equilibram o mercado.
“Se as nações começarem a condicionar o acesso ao seu mercado à arrecadação mínima de impostos por empresas multinacionais e seus grandes proprietários, isso pode trazer eleições de impostos mais justas e incentivar os próprios EUA a arrecadar essas quantias”, analisou.
No contexto das discussões globais sobre tributação, Zucman lembrou que o G20 aprovou, durante a presidência do Brasil no ano anterior, um comunicado que propunha explorar formas de taxação sobre os super-ricos. Contudo, esse movimento pode enfrentar oposição do novo governo de Trump e seus aliados, que tendem a adotar uma postura mais favorável às grandes corporações.
O economista encerrou seu raciocínio apontando que em vez de uma guerra tarifária que resulta em consequências negativas para todos os lados, o ideal seria construir uma corrida de benefícios mútuos por meio da aplicação desses tipos de impostos. Isso não só fomentaria uma maior justiça fiscal, mas também permitiria um ambiente comercial mais equilibrado entre as nações.
Essas propostas levantam importantes questionamentos sobre a forma como o comércio internacional é regido, especialmente em um cenário onde as potências econômicas estão se reavaliando constantemente.