O setor varejista brasileiro viveu em 2024 seu maior crescimento em vendas em mais de uma década, apesar de finalizar o ano com um recuo inesperado nas vendas de dezembro. De acordo com os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as vendas do varejo apresentaram uma queda de 0,1% no último mês do ano, comparado a novembro. As projeções iniciais, apontadas em pesquisa da Reuters, previam estabilidade nas vendas mensais e um crescimento de 3,50% em relação ao mesmo mês do ano anterior.
No entanto, quando analisamos o ano como um todo, o crescimento registrado em 2024 foi de 4,7%, representando o oitavo ano consecutivo de expansão no setor, e a maior alta desde 2012, quando as vendas cresceram 8,4%. O desempenho do varejo foi influenciado por um mercado de trabalho robusto, expansão do crédito e um aumento na renda da população.
Apesar do desempenho positivo ao longo do ano, houve uma desaceleração evidente nas vendas nos últimos dois meses, o que conjuga com as expectativas de uma economia perdendo força. Esse cenário reflete a diminuição do impulso fiscal e um aperto monetário que tornou o crédito mais caro.
Em janeiro de 2024, o Banco Central do Brasil anunciou uma elevação da taxa básica de juros Selic em 1 ponto percentual, elevando-a para 13,25%. De acordo com Igor Cadilhac, economista do PicPay, o cenário para 2025 indica uma desaceleração do crescimento econômico devido à redução nos estímulos fiscais e de crédito, na presença de altos índices de inflação e juros. “Apesar desse cenário desafiador, esperamos que a retração seja relativamente moderada”, acrescentou Cadilhac. Fatores como o mercado de trabalho aquecido e o aumento da massa salarial devem ajudar a sustentar o consumo das famílias.
Analisando o desempenho específico do varejo em dezembro, cinco dos oito setores avaliados apresentaram queda nas vendas, com as maiores retrações observadas em Equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (-5,0%); Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (-3,3%); e Combustíveis e lubrificantes (-3,1%).
Além disso, no comércio varejista ampliado, que incorpora atividades de venda de veículos, peças, materiais de construção, além de produtos alimentícios e bebidas, o volume de vendas também caiu, desta vez em 1,1% em comparação ao mês anterior. Mesmo assim, o varejo ampliado registrou um crescimento acumulado de 4,1% para o ano, representando o melhor resultado desde 2021, quando o crescimento foi de 4,5%.
Destacam-se entre as atividades que encerraram 2024 com crescimento em vendas: Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria com 14,2%; Veículos e motos, partes e peças com 11,7%; Outros artigos de uso pessoal e doméstico com 7,1%; e Material de construção com 4,7%. Cristiano Santos, gerente da pesquisa, ressaltou que “o grande destaque foi o setor farmacêutico, que é a única atividade a sustentar também oito anos de crescimento contínuo”.
Entretanto, três segmentos encerraram 2024 com quedas: Combustíveis e lubrificantes (-1,5%); Atacado especializado em produtos alimentícios, bebidas e fumo (-7,1%); e Livros, jornais, revistas e papelaria (-7,7%). Santos observou que “o segmento de livros, jornais, revistas e papelaria já vem acumulando quedas há alguns anos; a última alta foi em 2022, e isso está relacionado ao crescente processo de digitalização de parte de seus produtos”. O papel do livro didático tem sido um dos poucos fatores sustentáveis nesse setor.
Os dados recentes do varejo também sinalizam uma desaceleração na atividade econômica do Brasil ao final do último ano, acompanhando o desempenho da produção industrial e do volume de serviços, que também vivenciaram resultados similares.