A discussão sobre se o nazismo deve ser classificado como um movimento de esquerda ou de direita continua a gerar polêmica. Historiadores analisam essa questão, ressaltando o que chamam de uma "confusão de conceitos" a respeito do tema. A análise do movimento revela uma apresentação do nazismo como uma "terceira via".
O contexto de crise econômica e política na Alemanha na época em que o nazismo surgiu trazia a ideia de uma "revolução social", mas essa proposta era restrita aos "arianos". A controvérsia aumentou ainda mais quando o bilionário Elon Musk fez um gesto semelhante à saudação nazista durante a posse de Donald Trump, embora tenha negado qualquer intenção nesse sentido.
Recentemente, Musk teve uma conversa transmitida pelo aplicativo X com Alice Weidel, a líder de um partido de direita na Alemanha. Durante esse bate-papo, Weidel defendeu que o ditador nazista não deveria ser considerado um "de direita", mas sim um "socialista, comunista". A polêmica sobre as origens do nazismo, que teve um papel fundamental na morte de milhões de pessoas e na deflagração da Segunda Guerra Mundial, continua a ser debatida nas redes sociais.
Historiadores como Denise Rollemberg, da Universidade Federal Fluminense (UFF), explicam que tanto o nazismo quanto o fascismo surgiram após a Primeira Guerra Mundial, em oposição ao socialismo marxista e ao capitalismo liberal. "Essa confusão ocorre porque o nazismo não se posicionava claramente, rejeitando tanto a direita tradicional quanto a esquerda que estava emergindo. Eles queriam se apresentar como uma alternativa, um terceiro caminho", afirma Rollemberg.
A origem do nome do Partido Nacional-Socialista alemão, fundado em 1919, deve-se à promessa de uma "revolução social para a Alemanha". Contudo, muitos historiadores argumentam que a presença do termo "socialista" no nome não indica um alinhamento com a esquerda. Izidoro Blikstein, especialista em análise do discurso nazista na USP, destaca que o aspecto crucial é o termo "nacional". Para ele, "a defesa do que é nacional e 'próprio dos alemães' é a linha de força fundamental do nazismo".
Blikstein também aponta que teóricos nazistas buscavam fundamentos filosóficos que sustentassem a ideia de que os arianos eram descendentes diretos de uma tribo europeia antiga. Essa crença criou o mito da "raça pura", vinculada à necessidade de preservar a identidade ariana e à eliminação de qualquer elemento considerado uma subversão. O surgimento do nazismo se deu em uma época de forte sentimento nacionalista, exacerbado pela perda de territórios e crises econômicas após a Primeira Guerra.
Embora o nazismo proclamasse uma revolução social que sugeria maior intervenção estatal na economia, seu discurso era claramente antimarxista. A antropóloga Adriana Dias, da Unicamp, afirma que os comícios nazistas expressavam uma postura fortemente contrária ao marxismo, alegando que não existia a luta de classes como defendia o socialismo, mas sim uma luta racially a favor de limites linguísticos e raciais.
A perseguição aos judeus durante o regime nazista é uma questão que também gera debates acalorados. Os judeus, vistos como representantes tanto do socialismo quanto do capitalismo liberal, tornaram-se o alvo central do ódio nazista. Rollemberg explica que essa dualidade simbolizava a visão distorcida do nazismo sobre os judeus, associando-os ao socialismo revolucionário, dada a origem judaica de Karl Marx, e ao capitalismo pela história de muitos judeus nas finanças.
O caráter metódico e científico do extermínio promovido pelos nazistas é um ponto que dificulta comparações com regimes socialistas, como o soviético, que também utilizaram métodos repressivos, mas sem justificativas científicas tão arraigadas. Blikstein ressalta que, apesar de haver similaridades entre os dois regimes totalitários, o nazismo se destaca por seu enfoque racial extremo.
O regime nazista não perseguiu apenas judeus; democratas liberais, socialistas, ciganos, testemunhas de Jeová e homossexuais também eram alvo de suas políticas de repressão. Este aspecto contribui para a classificação do nazismo como extrema-direita, pois se aproxima de ideologias que se opõem à diversidade e direitos humanos.
O conceito de "comunidade popular" promovido pelos nazistas excluía todos que não se encaixavam em seu ideal de pureza racial, demonstrando como essa doutrina não apenas excluía minorias, mas também os próprios alemães que não se conformavam ao projeto autoritário do regime. A complexidade dessa ideologia torna difícil sua categorização como estritamente "esquerda" ou "direita".
Os historiadores afirmam que, ao longo do tempo, o nazismo exauriu suas bases ideológicas de esquerda ao estabelecer alianças com a burguesia após a conquista do poder. O contexto tumultuado pós-Primeira Guerra também contribuiu para a confusão das referências políticas, diluindo as definições rígidas de direita e esquerda.
No cenário atual, muitos debates buscam traçar paralelos entre os regimes totalitários do século XX, compreendendo que o totalitarismo pode manifestar-se tanto na direita quanto na esquerda. Rollemberg observa que embora o nazismo e o fascismo sejam considerados exemplos de totalitarismo de direita, o esquema de poder stalinista na União Soviética também representa uma forma de totalitarismo, demonstrando que a classificação não é unidimensional.
A análise contínua do passado permite uma melhor compreensão da complexidade dos regimes totalitários, dos quais o nazismo é um exemplo extremo. O estudo das suas ideologias e práticas continua a ser relevante para se evitar a repetição de erros na história.
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