No episódio do Profissão Repórter da última terça-feira, foi abordada a questão dos impactos das telas na vida dos jovens. A história central gira em torno de uma família em São Paulo, que enfrenta uma situação alarmante devido ao vício em celular do filho de 15 anos.
A dependência teve início quando o adolescente recebeu seu primeiro celular aos seis anos. Segundo seu pai, na época, nunca imaginavam as consequências que essa decisão teria. "Nós éramos trabalhadores do mercado financeiro, trabalhávamos muito e, com o tempo, o celular acabou sendo o caminho para deixá-lo mais tranquilo enquanto a gente fazia as coisas. O celular acabou tomando a conta e o espaço que ele tinha na vida", explica.
O quadro se agravou quando, aos oito anos, o menino foi diagnosticado com TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade) e começou um tratamento com uma neuropsiquiatra. No entanto, a pandemia expôs ainda mais o problema. "Nós percebemos em uma situação cotidiana, tipo: 'olha, está na hora do banho, hora do almoço, ah, atrás aqui, a gente começava a levar, mas, pensava: 'opa, espera aí'", recorda a mãe.
As crises começaram a se manifestar de forma alarmante. "A hora que ele vê que ele não está naquele mundo, entram as crises, entra a abstinência. Uma internet que falha, ele fica estressado. Na verdade, a gente vai lidando no dia a dia com isso. Criei uma pasta de rotina para ele acordar, escovar os dentes, e coloquei no quadro na parede, para ele tentar seguir, se seguiu duas vezes, foi muito", revela o pai.
A situação se intensificou a ponto de gerar comportamentos agressivos. O pai também mostrou fotos das mordidas que sofreu do filho durante as crises. "É uma marca enorme, foram mais de 40 mordidas", contou ele.
A família está em busca de ajuda e tratamento, aprendendo ao longo do caminho. "A proibição não funciona. Você tem que ser amigo, ter diálogo e criar acordos. Nós aprendemos com a nossa terapia", disse a mãe. O pai complementa: "Hoje a gente também faz o nosso acompanhamento, não só o nosso filho".
Para entender melhor a situação, a psicóloga Luciana Alves, da Associação Matera, comentou sobre o tema. "As coisas começam dentro de casa de uma forma inocente que os pais nem imaginam que pode se transformar em comportamento abusivo, evoluindo para a dependência tecnológica. As crianças começam com 4, 5 anos e os pais buscam ajuda quando elas já têm 15 ou 12 anos. Por isso, é tão difícil desinstalar esse comportamento", alerta.
Luciana enfatiza o desafio do equilíbrio. "A tecnologia tomou conta, o que tem um lado muito bom, mas, como tudo, tanto a falta quanto o excesso precisam estar equilibrados. Então, esse caminho do meio é o que todos estão tentando encontrar hoje em dia", finaliza a psicóloga.