A recente decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor uma sobretaxa de 25% sobre as importações de aço e 10% sobre o alumínio ressoa a mesma política aplicada em 2018. Contudo, a eficácia dessa medida a longo prazo é questionável, assim como foi há cinco anos. A legislação não leva em conta a realidade do setor, cuja dinâmica econômica demanda análise mais aprofundada.
Atualmente, os EUA produzem cerca de 90 milhões de toneladas de aço, mas seu consumo pode variar entre 90 e 200 milhões de toneladas anualmente. No último ano, o país precisou importar aproximadamente 25 milhões de toneladas, o que representa 22% do consumo total. Em relação ao alumínio, a situação é semelhante. A produção doméstica é de cerca de 3,5 milhões de toneladas, enquanto o país importou 5,5 milhões, correspondendo a 61% do consumo.
A construção de novas usinas siderúrgicas ou de alumínio não é um processo rápido; leva entre três e até sete anos, dependendo do projeto. Por isso, a simples imposição de tarifas não é um incentivo suficiente para expandir a capacidade produtiva antes que a indústria local enfrente uma crise financeira, especialmente em setores que dependem fortemente de aço e alumínio.
Um paralelo interessante pode ser traçado com o que ocorreu em 2018. Após poucos meses da imposição das tarifas, Trump teve que rever sua decisão. Em maio daquele ano, ele iniciou negociações que resultaram no acordo comercial USMCA, substituindo o antigo Nafta, e eliminou as tarifas para importações do Canadá e México. Posteriormente, em agosto, o presidente transformou as tarifas em cotas para outros grandes exportadores, como Brasil, Argentina e Coreia do Sul, permitindo que apenas a União Europeia e o Japão mantivessem as tarifas.
No cenário atual, a importação pode ser uma solução mais viável do que a tentativa de autossuficiência, que parece ser o objetivo de Trump. O exemplo chinês mostra os riscos dessa abordagem. A economia da China enfrentou um período complicado devido ao excedente de capacidade em sua indústria siderúrgica, o que resultou em subsidiação do setor e práticas de dumping, gerando ineficiências significativas.
A experiência brasileira nesse sentido é válida, pois também lidou com as distorções provocadas por políticas industriais inadequadas. O impacto de tarifas e sobretaxas, como as que Trump implementou, pode gerar um efeito cíclico de insegurança e instabilidade, tanto para o mercado interno quanto para as relações comerciais internacionais.
Assim, fica claro que as decisões tributárias do presidente Trump podem não somente carecer de sustentação econômica, mas também podem gerar graves consequências para a indústria e para o comércio exterior dos EUA. A melhor abordagem seria repensar essas estratégias, de modo a preservar a competitividade e garantir um comércio mais equilibrado.
Em suma, a nova política de sobretaxa pode ser uma solução temporária, mas não resolve o problema estrutural enfrentado pela indústria americana. Uma política comercial mais sensata é necessária para garantir a viabilidade a longo prazo do setor e das economias que dele dependem.
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