No Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, a pesquisadora Rosy Isaias, a primeira mulher negra reconhecida como nível 1A pelo CNPq, reflete sobre sua jornada e as galhas, que são o foco de suas investigações. As galhas são formações estranhas que aparecem nas plantas, frequentemente causadas por insetos que induzem mudanças estruturais nas células vegetais. Essas alterações revelam como as plantas reagem ao estresse sem a possibilidade de fuga, uma adaptação crucial para sua sobrevivência.
A importância das galhas no estudo do metabolismo vegetal é imensurável. Elas não apenas demonstram a resposta das plantas a diferentes estresses, mas também abrem um leque de investigações sobre as interações entre plantas e insetos. "Imagine descobrir cada passo de como uma espécie de inseto faz para a planta responder aos seus estímulos gerando novas galhas!" ressalta Rosy. Recentemente, sua equipe tem se concentrado em galhas que afetam culturas agroflorestais, visando reduzir os danos causados por esses insetos.
As galhas, ao abrigo dos tecidos vegetais, apresentam muitos mistérios ainda não desvendados pela ciência. Uma das inovações nas pesquisas de Rosy é a morfotipagem das galhas, que categoriza essas formações com base em suas características tridimensionais. "É fundamental identificar insetos galhadores, já que a maioria ainda é desconhecida", explica. Um exemplo é o Eriogalococcus isaias, um inseto que recebeu homenagem ao nome da cientista, identificado pelo professor Christopher Hodgson. Rosy enfatiza que os diferentes gêneros galhadores têm impactos variados nas plantas hospedeiras, levando a uma curiosidade constante sobre as interações biológicas que se desenrolam fora da vista humana.
Um dos artigos mais relevantes de sua carreira, publicado em 2015, elucida as cascatas metabólicas celulares que resultam na formação de galhas. A pesquisa sugere que a presença de Espécies Reativas de Oxigênio (EROs) pode ser o primeiro estímulo para as alterações celulares que induzem as galhas. Em resposta à presença desses insetos, as plantas aumentam a produção de compostos protetores, resultando em mudanças que favorecem a hipertrofia celular, uma das primeiras reações observadas na indução de galhas.
A dedicação de Rosy vai além do laboratório. Recentemente, ela iniciou um grupo de trabalho que une mulheres quilombolas e veredeiras no norte de Minas Gerais, buscando fortalecer as conexões entre a academia e o conhecimento tradicional. "Estamos criando uma Liga de Mulheres pelas Veredas, focando na preservação das áreas críticas para a biodiversidade e qualidade de vida das comunidades", afirma. Esta ação nasceu inspirada por grupos como o de Mulheres Negras ligado à Liga das Mulheres pelo Oceano, fomentando um intercâmbio de saberes e experiências.
A formação acadêmica de Rosy começou na Universidade Santa Úrsula, onde seu interesse pela Botânica se solidificou. A trajetória prosseguiu com mestrado e doutorado em instituições renomadas, culminando na sua chegada à Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em 1995. Como professora titular, Rosy lidera projetos de pesquisa e coordena iniciativas que visam a formação de novos pesquisadores. "Me considero uma professora que faz pesquisa tendo os alunos como principais colaboradores", destaca.
Com 164 artigos publicados e diversas colaborações em outras áreas da Botânica, Rosy tem se destacado no cenário nacional e internacional. Ela enfatiza a importância de formar jovens cientistas, com o objetivo de perpetuar o conhecimento sobre a flora brasileira. Além disso, está à frente de projetos que buscam envolver estudantes em atividades de pesquisa em parceria com escolas locais.
No contexto de sua atuação profissional, Rosy contribui no Conselho Regional de Biologia, promovendo a educação dentro da profissão e compartilhando suas experiências através de podcasts voltados para educadores. "A produção de conhecimento sobre a flora é imprescindível, mas muitas vezes negligenciada", observa Rosy, que sonhou ser cientista e hoje se consolidou como uma referência na área.
Ela também ressalta a importância da representatividade, afirmando que "a palavra representatividade ganhou contornos mais claros e marcantes em minha trajetória". O engajamento de Rosy em divulgar a ciência resulta em um enriquecimento significativo do conhecimento sobre a biodiversidade e a função das cientistas negras na ciência.