Conhecida popularmente como “língua presa”, a anquiloglossia é uma condição congênita que pode ser percebida logo nas primeiras horas de vida do recém-nascido. Quando não identificada precocemente, essa situação pode afetar o desenvolvimento da criança, acarretando problemas na fala e até complicações na amamentação.
A anquiloglossia se caracteriza por uma alteração no frênulo lingual, que é a membrana que liga a parte debaixo da língua ao assoalho da boca. Se esse frênulo for excessivamente curto, a língua ficará restrita, limitando seus movimentos, algo essencial para uma comunicação clara.
As consequências da língua presa vão além da dificuldade em falar. O bebê pode encontrar problemas para mamar, sugar e engolir adequadamente o leite materno. Essa situação é preocupante, pois, por sua vez, pode gerar desconforto e dores nos seios maternos. Vale enfatizar a importância do leite materno na proteção contra várias doenças. “Além de comprometer o aleitamento materno, fundamental durante os seis primeiros meses de vida, o problema pode causar má digestão, problemas ortodônticos, alterações motoras e irritabilidade”, explica Michelle Marchi de Medeiros, médica pediatra e coordenadora da UTI Neonatal e Maternidade do Vera Cruz Hospital, em Campinas (SP), em nota ao Canaltech.
Por muitos anos, o diagnóstico da língua presa era demorado, levando a um reconhecimento tardio do problema. Entretanto, cerca de 10 anos atrás, novos protocolos foram estabelecidos para facilitar a identificação da anquiloglossia em bebês. Em 2014, a implantação da Lei Federal 13.002 tornou obrigatória a avaliação da anatomia e função da língua nos recém-nascidos.
O exame que avalia a anquiloglossia é conhecido como “teste da linguinha” e deve ser realizado por um fonoaudiólogo. “Todo o procedimento é rápido, indolor e eficaz, permitindo o diagnóstico precoce e a indicação de tratamento para as limitações dos movimentos da língua logo no início da vida”, destaca a médica Medeiros.
Teoricamente, a condição é bem compreensível; o freio lingual preso no assoalho da boca inibe a movimentação adequada da ponta da língua. Um exemplo prático foi relatado em uma pesquisa publicada na Revista RSBO Odonto, onde pesquisadores da Universidade Federal do Paraná (UFPR) observaram o caso de uma menina de dois anos com língua presa. Antes do diagnóstico, a criança enfrentava dificuldades na alimentação e na fala.
Diferentemente de outras condições que podem afetar os pequenos, a anquiloglossia possui tratamentos eficientes e seguros. A equipe médica deverá avaliar cada caso individualmente para decidir a melhor abordagem.
De maneira geral, a resolução da condição ocorre por meio da frenectomia lingual, que é uma cirurgia simples. A operação consiste na remoção do frênulo lingual, feita com anestesia local. Em alguns casos, a intervenção pode exigir a aplicação de pontos ou o uso de laser.
Independentemente do procedimento escolhido, a cirurgia é rápida e não requer internação. Após o procedimento, o acompanhamento pode incluir fisioterapia especializada e fonoaudiologia, essenciais para a recuperação da funcionalidade plena da língua.
Quando se menciona dificuldades de fala, é comum lembrar do personagem Cebolinha, da Turma da Mônica, que trocava o R pelo L, dizendo “lápido” em vez de “rápido”. Embora suas dificuldades de fala sejam evidentes, elas não correspondem exatamente ao que é anquiloglossia.
É possível que o Cebolinha apresente uma condição chamada rotacionismo, que se refere à dificuldade de pronunciar a letra R. Essa questão pode ter múltiplas causas, incluindo a falta de coordenação motora da língua, e pode ser avaliada e tratada com o auxílio de um fonoaudiólogo.
Para esclarecimentos sobre questões relacionadas ao freio lingual curto, é recomendável consultar médicos especializados, como pediatras, otorrinolaringologistas ou odontopediatras.