O ex-ministro da Fazenda, Rubens Ricupero, compartilhou suas reflexões sobre os riscos e oportunidades que o Brasil enfrenta em decorrência das tarifas do presidente dos EUA, Donald Trump. Em entrevista ao InfoMoney, ele começou destacando que “não vejo ninguém que até agora esteja ganhando com isso. Nem os americanos vão ganhar alguma coisa com isso”.
Ricupero manifesta ceticismo quanto à viabilidade da manutenção das tarifas mais altas pelo presidente Trump a longo prazo. Ele acredita que, apesar de o Brasil não ser um alvo prioritário, as tarifas poderão afetar o país indiretamente por meio de medidas abrangentes, como a aplicação de impostos sobre aço e alumínio, experiências que já ocorreram no primeiro mandato do republicano.
“O momento é de cautela”, sugere Ricupero, enfatizando a importância de evitar provocações, especialmente em relação à China. O embaixador ressalta a necessidade de manter uma relação diplomática harmoniosa, uma vez que Trump expressa “uma hostilidade muito grande” em relação ao bloco dos BRICS, do qual o Brasil faz parte.
Ricupero também menciona que, caso o Brasil se torne alvo de tarifas, o país possui recursos para argumentar e buscar a reversão da situação, mas ressalta a incerteza do cenário devido à natureza imprevisível de Trump. “Não dá para prever cenários ou antecipar o que pode acontecer”, destaca ele.
Quando questionado sobre a possibilidade de estagnação comercial, Ricupero argumenta que a relação comercial com os Estados Unidos é significativa, visto que os EUA são o segundo maior parceiro comercial do Brasil. Contudo, essa relação é ofuscada pelas trocas comerciais com a China, que predominam em produtos como soja e minério de ferro, enquanto as exportações para os EUA são principalmente manufaturados, que representam mais de 80% das vendas.
Ele também menciona o fato de que, no ano anterior, os EUA registraram superávit em relação ao Brasil, embora esse saldo tenha diminuído. Porém, é preciso estar atentos às medidas que podem ser tomadas, uma vez que a inflação e a política comercial de Trump são incertas. “Embora o mercado americano seja importante, não é tão vital como é a China”, afirma.
A discussão então se volta para o bloco dos BRICS, cuja presidência o Brasil assumirá este ano. A hostilidade de Trump em relação a esse bloco levanta preocupações. “Vai ter que tomar muito cuidado nessa reunião para evitar qualquer tipo de ação que possa parecer uma provocação”, resume Ricupero.
Sobre eventuais retaliações do Brasil, o ex-ministro acredita que o país possui uma margem, mas as estratégias devem ser muito bem planejadas. Apesar de existir discussão sobre tarifas em relação ao etanol, é complicado fazer previsões sobre as possíveis ações de Trump, que tem mostrado uma natureza imprevisível.
“O melhor é esperar que essa tendência se modere”, sugere Ricupero, ressaltando que as tarifas aplicadas pelo presidente possam sofrer alterações ao longo do tempo, assim como aconteceu com suas ações em relação ao México e Canadá.
Ricupero também pondera sobre os efeitos exatos que as tarifas poderão ter sobre a inflação nos Estados Unidos e, consequentemente, sobre o Brasil. Ele opina que um aumento na inflação americana poderá ter repercussões globais, mas ressalta que o Brasil já enfrenta desafios inflacionários que exigem atenção imediata do governo. “O Brasil, melhor que os outros, deveria ter uma postura mais ativa para combater a inflação e as despesas orçamentárias”, conclui.