A Delegacia de Defesa dos Serviços Delegados (DDSD) revelou que o financiamento do furto de petróleo de dutos da Petrobras em operações criminosas no Rio de Janeiro tem relação direta com o jogo do bicho. Essa informação emergiu durante a Operação Ouro Negro, que resultou na expedição de 25 mandados de busca e apreensão cumpridos por policiais.
Os recursos arrecadados com as atividades do jogo do bicho foram utilizados para cobrir despesas como compra de equipamentos de perfuração e aluguel de veículos necessários para o transporte do produto furtado.
O líder da quadrilha, identificado como Vinícius Drumond, foi evidenciado como o 'cérebro' do esquema. Ele é filho do falecido bicheiro Luizinho Drumond e atualmente ocupa o cargo de vice-presidente executivo da Escola de Samba Imperatriz Leopoldinense. Em sua residência, localizada na Barra da Tijuca, foi encontrado um arsenal de bens, incluindo joias, aproximadamente R$ 200 mil em dinheiro, e veículos de luxo. Todo este material foi confiscado e será sujeito a análises periciais.
O crime de furto de petróleo, normalmente vinculado a militantes, é uma prática que ocorre no estado do Rio desde pelo menos 2017. No entanto, essa é a primeira vez que a atuação de grupos de contravenção é associada a esse tipo de crime.
O delegado Pedro Brasil expressou sua surpresa ao afirmar: "Foi uma surpresa, ainda não tínhamos nos deparado com a contravenção associada a esse tipo de crime, que é a perfuração de dutos. Esse crime já existe aqui no Rio de Janeiro há muito tempo. É um crime que ocorre no Brasil inteiro, aliás ocorre em vários países do mundo, mas a participação da contravenção foi uma novidade para a gente". O início da investigação se deu a partir da prisão de um indivíduo na Bahia, onde a colaboração entre as polícias do estado e do Rio foi fundamental para desvendar a quadrilha.
O delegado continuou a esclarecer que "A investigação iniciou-se a partir de uma prisão em flagrante que ocorreu no Estado da Bahia, uma investigação que teve uma colaboração nossa com a Polícia Civil da Bahia, e a partir dessa prisão em flagrante, elementos foram recolhidos. Nós fizemos uma investigação reversa, fomos seguindo as pistas, e chegamos nos executores e também no financiador, que é o contraventor Vinícius Drumond".
Outra apuração realizada pela polícia fluminense em 2022 revelou as táticas de uma quadrilha de milicianos dedicada ao furto de petróleo. Os bandidos costumam escolher os dutos a serem perfurados em locais estratégicos, onde há menos residências, e utilizam ferramentas especiais para a perfuração da tubulação subterrânea de alta pressão.
Após perfurar os dutos, eles utilizam um sistema de válvulas para direcionar o produto para caminhões, facilitando o desvio de petróleo. O delegado Pedro Brasil, responsável pela investigação que estabeleceu a relação entre a contravenção e este crime, está agora em busca de identificar quem compra o petróleo furtado.
"Levando em consideração outras investigações feitas pela nossa unidade, o petróleo é levado através de caminhões para receptadores. Basicamente, ele é utilizado como matéria-prima para a produção de asfalto," concluiu o delegado.
Até o momento, a equipe de reportagem não conseguiu contatar os representantes legais de Vinícius Drumond. Um advogado compareceu à DDSD, mas optou por não comentar, pois ainda não tinha decidido se assumiria a defesa.
Em nota, a Transpetro não revelou detalhes sobre as perdas financeiras provocadas pelos furtos. Entretanto, a empresa disponibilizou um telefone para receber denúncias sobre atividades suspeitas: "O transporte de combustíveis por dutos é seguro e eficiente, mas intervenções criminosas podem trazer riscos à comunidade. A companhia disponibiliza o telefone 168, um canal gratuito que funciona 24 horas por dia, nos sete dias da semana, para receber denúncias sobre movimentação suspeita nas faixas de dutos, com sigilo garantido."