O cenário do mercado de trabalho brasileiro, embora tenha mostrado uma certa desaceleração ao final do ano, ainda apresenta uma taxa de desemprego que reflete um setor relativamente robusto. Segundo os dados do IBGE, a taxa de desemprego no trimestre que terminou em dezembro foi de 6,2%, indicando uma força de trabalho resistente, embora isso possa trazer riscos aumentados para a inflação.
A situação foi discutida por economistas que analisaram a PNAD, a qual confirmou os resultados do Caged indicando uma perda significativa de 535 mil vagas em dezembro. Isso sugere um arrefecimento do mercado de trabalho, com um leve aumento na taxa de desemprego e estabilidade no total de pessoas ocupadas. Leonardo Costa, economista do ASA, prevê que "o PIB do 4º trimestre de 2024 deve desacelerar em relação aos demais trimestres do ano, entregando ritmo de atividade mais modesto para 2025".
Costa salienta que a taxa de desemprego, livre de sazonalidade, subiu para 6,7%, distanciando-se da mínima histórica alcançada recentemente. O Banco Inter, que ajustou esses números, indicou um aumento da taxa de desemprego para 6,6%, o maior avanço em um único mês desde janeiro de 2023. Rafaela Vitoria, economista-chefe do Banco Inter, também apontou que "a PNAD mostra sinais de desaquecimento do mercado de trabalho".
Claudia Moreno, economista do C6 Bank, também comentou sobre esses dados, ilustrando que a renda continua a apresentar resultados positivos. “Na comparação de dezembro de 2024 com o mesmo mês de 2023, a renda real habitual cresceu 4,3%. A massa de renda habitual, por sua vez, teve aumento de 7,4% no período, impulsionada pelo aumento do nível da ocupação e dos salários”, destacou.
Esse ambiente de emprego elevado se traduz em um estímulo para a atividade econômica e para o PIB, embora traga complicações para o controle da inflação, que permanece acima do desejado. Claudia ressalta que "isso reforça nossa expectativa de manutenção do ritmo de alta dos juros, que devem chegar a 15% em junho deste ano, de acordo com a nossa projeção".
Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos, também expressou seus comentários sobre os dados de emprego, destacando que, apesar de uma abertura setorial insatisfatória, o detalhamento geral dos dados se mostrou promissor. Ele observou que "a população ocupada formal e a massa salarial real fizeram novos recordes, sinalizando que o consumo das famílias deve seguir bem apoiado no início de 2025".
No entanto, é importante notar que tanto o Caged quanto a PNAD apresentaram resultados abaixo das expectativas em dezembro. Isto marca uma mudança significativa, uma vez que há tempos a PNAD não apresentava dados tão negativos, especialmente em comparação com as projeções do mercado, que previam uma taxa trimestral de 6,1%. Embora haja uma desaceleração evidente nos dados de atividade a partir de novembro, muitos especialistas acreditam que o primeiro trimestre de 2025 será forte, impulsionado por uma safra recorde.
O Goldman Sachs apontou que, apesar da desaceleração no crescimento de empregos, os salários reais continuam altos. "O emprego caiu 0,1% em relação ao mês anterior, ajustado sazonalmente, com uma diminuição no setor informal de 0,5%, enquanto a força de trabalho ativa se manteve estável", informou. O Bradesco também reiterou que a PNAD está alinhada com os dados do Caged, sugerindo uma perda de intensidade no mercado de trabalho ao final do último ano. Eles reafirmaram a perspectiva de uma desaceleração lenta da economia, já em andamento desde o último trimestre de 2024.