O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) deixou o cenário para maio em aberto, gerando especulações entre economistas sobre a trajetória da Selic. Instituições financeiras como Itaú e XP Investimentos já consideram a possibilidade de que a taxa não suba tanto quanto previsto anteriormente.
No final de 2022, o BC anunciava dois aumentos na taxa de juros a um ritmo de 1 ponto porcentual. Essa decisão colocou a política monetária em um modo de funcionamento automático. Contudo, a reunião mais recente, ocorrida em 29 de janeiro, trouxe à tona importantes considerações sobre os próximos passos do BC, especialmente em vista do encontro agendado para os dias 6 e 7 de maio.
Durante a reunião, o Copom não fez grandes revelações, sendo sua comunicação coerente com as expectativas do mercado. Para a próxima reunião, em março, a expectativa é que a Selic continue com o aumento de 1 ponto porcentual, mas o comitê não estabeleceu compromisso quanto a um aumento adicional a partir de maio. Essa postura reflete uma busca por “graus de liberdade”, tendo em vista incertezas resultantes da nova administração de Donald Trump nos Estados Unidos, além de um contexto interno marcado por sinais de desaceleração econômica, inflação de serviços persistente, e questões fiscais que ainda impactam a câmbio, sem que esses fatores tenham sido integralmente repassados aos preços ao consumidor.
O comunicado do Copom foi interpretado por muitos economistas como dovish, dado que não foi renovada a indicação de aumentos da mesma magnitude nas reuniões seguintes. Além disso, houve uma mudança na forma como a atividade econômica interna é abordada. As projeções de inflação foram moderadas, incluindo uma análise otimista quanto a possíveis impactos das tarifas prometidas por Trump, que poderiam reduzir a inflação nas economias emergentes devido aos seus efeitos sobre o comércio internacional.
Com isso, economistas de instituições como Itaú e XP Investimentos começaram a reavaliar suas previsões, já cogitando que a Selic não subirá tanto quanto inicialmente imaginavam. Alguns analistas, no entanto, também notaram que o Copom não deixou claro se a reunião de maio resultará em mais uma alta dos juros.
No entanto, uma interpretação distinta surgiu entre certos economistas, que consideraram o texto do comunicado como hawkish. Isso ocorreu em meio a um novo Copom, agora com sete dos nove membros escolhidos por Luiz Inácio Lula da Silva. Essa mudança na composição trouxe argumentos que favorecem ambos os lados da discussão. Por um lado, evidenciou pioras nas expectativas de inflação do mercado, enquanto manteve a projeção de inflação em 4% para o terceiro trimestre de 2026. Ao mesmo tempo, apontou que a atividade econômica ainda demonstra dinamismo e resiliência, embora reconheça a possibilidade de uma desaceleração maior do que a inicialmente projetada como um risco à queda da inflação.
A economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Natalie Victal, comentou que “a sensação que fica é que a autoridade monetária já está pensando nas defasagens da política monetária”. De acordo com Laiz Carvalho, economista do BNP Paribas, houve uma tonalidade dovish no comunicado porque o BC poderia ter feito uma sinalização mais robusta sobre a continuidade de um ciclo de ajustamento monetário. Para ela, a abordagem em relação ao balanço de riscos, que inclui observações sobre a atividade econômica, pode ter sido feita de maneira precipitada, apontando que a desaceleração mencionada deve levar um tempo para se concretizar.
Cristiano Oliveira, economista-chefe do Banco Pine, qualificou o tom do comunicado como similar ao anterior, de dezembro, e adotou um viés hawkish. “O comunicado reflete a necessidade de cautela, e sugere que a autoridade monetária se mostra atenta ao cenário tanto interno quanto externo”, afirmou Oliveira. Por outro lado, o ex-diretor do BC, Fabio Kanczuk, classificou a decisão como “a mais dovish possível”, destacando que essa abordagem pode indicar que a autoridade monetária está alinhada com um cenário onde seria viável realizar apenas mais um aumento de juros. Kanczuk prevê que a ata do Copom a ser publicada na próxima terça pode apresentar uma tonalidade diferente, caso o mercado reaja de maneira negativa às recentes declarações, o que poderia agravar as expectativas de inflação e afetar a curva de juros.