Há uma clara assimetria na relação entre Brasil e Estados Unidos, com maior peso para os americanos. Os EUA são o segundo maior parceiro comercial do Brasil, tanto em importações quanto em exportações. Já o Brasil é o nono país que mais importa dos EUA, e o 18º país que mais exporta para os americanos. O presidente dos EUA Donald Trump disse no início da semana que são os brasileiros que precisam da economia americana. "Eles precisam de nós. Nós não precisamos deles. Todos precisam de nós", disse. Para especialistas ouvidos pelo UOL, é verdade que o Brasil precisa mais dos Estados Unidos do que eles precisam dos brasileiros, mas o papel do Brasil não deve ser desprezado.
Os Estados Unidos são o segundo maior parceiro comercial do Brasil. Em 2024, o país teve uma participação de 12% nas exportações brasileiras e de 15,5% nas importações feitas pelo Brasil. Foram cerca de US$ 40,3 bilhões em exportações e US$ 40,5 bilhões em importações dos Estados Unidos no ano passado, segundo dados do governo brasileiro. A relação comercial com os EUA cresceu no último ano, e as exportações brasileiras para os Estados Unidos tiveram um crescimento expressivo de 9,2%. Já as importações cresceram 6,9%. Os Estados Unidos ficam atrás apenas da China, que é de longe o principal parceiro do Brasil. O Brasil está em 18º lugar dentre os exportadores para os Estados Unidos, que é o nono maior importador de produtos americanos.
O principal produto exportado pelo Brasil para os Estados Unidos é petróleo bruto (14% das exportações em 2024), seguido por produtos semiacabados de ferro e aço (8,8%), aeronaves (6,7%) e café não torrado (4,7%). Já o Brasil importou dos americanos principalmente motores e máquinas (15%), óleos combustíveis de petróleo (9,7%), aeronaves e suas partes (4,9%) e gás natural (4,1%).
Os Estados Unidos são o principal investidor estrangeiro no Brasil. Em 2022, os americanos respondiam por quase 30% do total de investimentos estrangeiros diretos no Brasil, com um estoque de mais de US$ 228 bilhões. Em 2023, o número de investimentos de empresas americanas anunciados no Brasil foi 50% maior que em 2022, demonstrando um crescente interesse dos americanos no país, especialmente em tecnologia e economia verde.
O Brasil é o quinto país que mais envia turistas aos Estados Unidos, com 1,5 milhão de visitantes em 2024. Contudo, o número de americanos que visitaram o Brasil ainda é equivalente a apenas um terço do total de brasileiros que viajam para os EUA, totalizando cerca de 572 mil.
A economia americana é de longe a maior do mundo, com um PIB de US$ 28 trilhões, enquanto o brasileiro é de apenas US$ 2 trilhões. Como aponta o professor de relações internacionais da ESPM, Leonardo Trevisan, "Se desconsiderar a China, cujo PIB é de cerca de US$ 19 trilhões, é preciso somar o PIB dos oito países seguintes e ainda não chegamos no PIB americano. Eles são o grande comprador do mundo, os mais ricos".
Os dados evidenciam a assimetria existente na relação entre Brasil e Estados Unidos, com maior peso para os americanos. O coordenador do Centro de Estudos de Negócios Globais da FGV EESP, Lucas Ferraz, afirma que as tarifas de importação brasileiras são maiores do que as que os EUA cobram do Brasil, mencionando que "as tarifas de importação brasileiras são muito maiores do que as que eles cobram de nós".
Embora a economia americana seja gigantesca, o Brasil mantém um papel importante na cadeia de produção de empresas americanas. Empresários americanos com relações comerciais no Brasil não concordariam com a afirmação de Trump. O Brasil tem um histórico de décadas de integração que é crucial para ambos os países.
Por fim, embora Trump tenha parado sua estratégia protecionista, o Brasil deve se preparar para diversificar seus laços comerciais com outras nações.