Em fevereiro de 2025, o Brasil registrou seu primeiro déficit comercial mensal em três anos, totalizando -US$ 324 milhões. Este resultado marca uma reversão do superávit de US$ 5,1 bilhões alcançado no mesmo período do ano anterior. O impacto desse revés está ligado principalmente à importação de uma plataforma petrolífera da China, avaliada em US$ 2,7 bilhões, além da queda significativa nas exportações de commodities como minério e petróleo.
O déficit registrado reflete vulnerabilidades estruturais na fórmula de exportação do Brasil, evidenciando a dependência do país em relação às commodities, que corresponderam a 60% das vendas externas em 2024. Esse cenário levanta preocupações sobre a sustentabilidade do comércio exterior brasileiro e sua capacidade de adaptação frente aos desafios globais.
A importação da plataforma petrolífera da China, classificada como "bem de capital", foi responsável por 11,7% do total de compras externas no mês. Essa aquisição fez com que as importações de bens fossem elevadas a US$ 24,1 bilhões, um aumento de 25,7% em relação a 2024.
As exportações brasileiras de commodities também desempenharam um papel crucial neste panorama. O minério de ferro, por exemplo, teve uma queda de 18%, enquanto as de petróleo bruto recuaram 12% em relação ao ano anterior. Esta desaceleração foi pressionada pela diminuição da demanda chinesa, que já havia mostrado sinais de retração, com as vendas para a China caindo 30% em janeiro.
Enquanto as commodities enfrentaram dificuldades, a indústria de transformação se destacou, mostrando um crescimento de 8,1% nas exportações. Setores como o de veículos e celulose registraram aumentos de 14% e 9%, respectivamente. No agronegócio, o crescimento foi modesto, com alta de 1,8%, impulsionado principalmente pela soja em grão.
Apesar do déficit comercial registrado, os Investimentos Diretos no País (IDP) atingiram US$ 9,3 bilhões em fevereiro, uma alta de 75% em relação a 2024. Aproximadamente US$ 5,6 bilhões correspondem a participações no capital, refletindo a confiança do mercado externo na recuperação da indústria brasileira.
As previsões indicam a possibilidade de um déficit comercial anual que pode atingir até US$ 4 bilhões, algo inédito desde 2014. Embora o Ministério da Economia atribua esse resultado a fatores temporários, especialistas alertam sobre os riscos de uma desindustrialização precoce caso a tendência de altas importações de manufaturados se mantenha, colocando em risco a recuperação econômica do Brasil.
Nota técnica: Dados oficiais do Banco Central e do MDIC até março de 2025. As informações de janeiro foram deixadas de fora devido à janela de tempo solicitada.