Em um dos capítulos mais sombrios da história brasileira, a vala de Perus emerge como um símbolo crucial do legado de dor e luta por justiça das vítimas da ditadura militar. Descoberta em 4 de setembro de 1990, no Cemitério Dom Bosco em São Paulo, essa vala clandestina continha os restos mortais de indigentes, desconhecidos e opositores ao regime, revelando um passado de extrema violação dos direitos humanos.
A abertura da vala marcou um ponto de virada na luta por Memória, Verdade e Justiça no Brasil, logo após o restabelecimento democrático. Durante o processo de exumação, foram localizadas 1.049 ossadas, elevando a urgência de descobrir a identidade dos corpos. A identificação dos restos mortais se tornou uma tarefa complexa, especialmente para os familiares de militantes desaparecidos durante a repressão.
Em um gesto reconhecedor das atrocidades cometidas, a ministra dos Direitos Humanos e da Cidadania, Macaé Evaristo, pediu desculpas em 2025 em nome do Estado brasileiro aos familiares das vítimas da vala de Perus. Este ato foi mais do que uma formalidade; representou um compromisso renovado do governo com os direitos humanos e uma abertura para o diálogo sobre o passado obscuro do país.
Os trabalhos de identificação das ossadas seguem em ritmo contínuo. Em 2024, foi firmado um acordo que visa financiar a contratação de uma equipe pericial especializada, estabelecendo um avanço significativo nessa causa. Atualmente, as ossadas estão sob os cuidados do Centro de Antropologia e Arqueologia Forense da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), onde os peritos trabalham incansavelmente para devolver nomes e dignidade às vítimas.
O legado da vala de Perus não é apenas uma coleção de ossadas; é um lembrete constante das atrocidades cometidas durante um período sombrio. No próprio cemitério, um monumento foi erguido em homenagem a essas vítimas, funcionando não só como uma lembrança do sofrimento, mas como um chamado à ação por justiça e reconhecimento. À medida que o Brasil busca entender e processar sua história, a vala se estabelece como um ícone da luta por justiça e um testemunho da necessidade de nunca esquecer o que ocorreu em nome da política e da repressão.