Pesquisadores recentes analisaram o maior evento de extinção em massa do planeta, ocorrido há 252 milhões de anos no final do Período Permiano, para compreender como antigos parentes dos atuais anfíbios, como sapos e rãs, conseguiram resistir a uma catástrofe que extinguiu até 90% das espécies vivas na Terra.
Um estudo publicado no periódico Royal Society Open Science destacou a trajetória dos temnospondyli, um grupo de anfíbios com uma dieta diversificada que lhes permitiu sobreviver. Os cientistas apontam que essa flexibilidade alimentar e o habitat em ambientes de água doce foram fundamentais para sua resiliência.
A comunidade científica já sabia que os temnospondyli sobreviveram à extinção do Permiano, mas não conheciam os mecanismos por trás dessa sobrevivência. Esses animais eram predadores que consumiam peixes e outras presas, assim como os anfíbios modernos, como rãs e salamandras. Durante seu período, o clima era predominantemente quente, especialmente após o evento catastrófico.
Depois do Permiano, no início do Triássico, a Terra enfrentou uma intensa atividade vulcânica, o que resultou em aquecimento global, aridez crescente, diminuição do oxigênio na atmosfera, chuvas ácidas e incêndios florestais. Esse cenário gerou um ambiente hostil, transformando os trópicos em uma verdadeira “zona morta tropical”.
Para entender melhor as adaptações dos temnospondyli, os pesquisadores analisaram 100 espécimes que viveram nesse intervalo crítico. A descoberta surpreendente foi que esses anfíbios não apresentaram mudanças significativas em sua morfologia. Seus corpos mantiveram a mesma proporção, com algumas espécies permanecendo pequenas e se alimentando de insetos, enquanto outras cresceram, possuindo focinhos longos para caçar peixes ou focinhos largos para uma dieta diversificada.
Ainda mais impressionante foi observar como, nos 5 milhões de anos seguintes, houve uma diversificação significativa em suas formas corporais e funções, aumentando a variedade de espécies após a crise. Apesar do desaparecimento de muitos animais nos trópicos, os temnospondyli aparentavam ter conseguido atravessar essa zona morta, provavelmente durante períodos mais frios.
Estudos de fósseis encontrados na África do Sul, Austrália, América do Norte, Europa e Rússia reforçam essa teoria. É acreditado que a baixa seletividade alimentar dessas espécies tenha sido um bom indício de sua sobrevivência, visto que consumiam uma ampla gama de animais e se refugiavam em grandes corpos d'água.
O declínio dos temnospondyli começou somente na metade do Triássico, quando as linhagens ancestrais dos mamíferos e dinossauros passaram a dominar o ecossistema, levando esses anfíbios à extinção.