A recente imposição de tarifas e as ameaças de anexação do Canadá pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, têm provocado mudanças significativas no cenário eleitoral canadense. O Partido Liberal, que anteriormente enfrentava dificuldades, escolheu um novo líder e agora concorre de igual para igual nas intenções de voto, algo que não ocorria há mais de um ano.
Mark Carney, ex-presidente dos bancos centrais canadense e britânico, foi eleito no último domingo para liderar o Partido Liberal e, consequentemente, para assumir a posição de primeiro-ministro do Canadá. A vitória foi esmagadora, com Carney obtendo 86% dos votos, superando a ex-ministra das Finanças, Chrystia Freeland. Ele sucede o primeiro-ministro Justin Trudeau, que renunciou devido à sua impopularidade. A previsão é de que as eleições ocorram até outubro, mas Carney pode optar por antecipá-las para o final de abril ou início de maio, aproveitando o aumento do sentimento patriótico entre os canadenses gerado pelas ações de Trump.
Pierre Poilievre, líder do principal partido de oposição, o Partido Conservador, também propõe retaliações tarifárias contra os EUA. Contudo, ele enfrenta o desafio de sua proximidade ideológica e de estilo com Trump. Vídeos divulgados pelos liberais mostram Poilievre adotando a mesma retórica que Trump, utilizando termos como 'país falido' e 'fake news'.
Em seu discurso vitorioso, Carney afirmou: "Trump pensa que pode nos enfraquecer com seu plano de dividir e conquistar. O plano de Poilievre é nos dividir e nos deixar prontos para sermos divididos". Ele também destacou os riscos que a estratégia de Trump representa para a soberania canadense, dizendo: "Os americanos querem nossos recursos, nossa água, nossa terra, nosso país. Se eles tivessem sucesso, destruiriam nosso modo de vida". Carney se comprometeu a manter as tarifas impostas pelo governo anterior até que os EUA mostrem respeito pelo Canadá: "Meu governo manterá as tarifas até que os americanos nos demonstrem respeito".
O novo líder do Partido Liberal se apresenta como uma figura sóbria e tecnocrática em tempos de crescente populismo. Com uma trajetória longeva fora do Canadá e nunca tendo ocupado um cargo público anteriormente, Carney se destacou no partido principalmente pela sua sólida formação econômica e pela sua experiência em momentos de crise. Ele serviu como governador do Banco Central do Canadá durante a crise financeira de 2008 e foi presidente do Banco da Inglaterra durante o caos que se seguiu ao referendo do Brexit.
O alto custo de vida e a crescente impopularidade do governo anterior favoreceram o Partido Conservador nos últimos meses. No entanto, a nova realidade imposta pelas tarifas de Trump despertou preocupações nos eleitores quanto à manutenção de seus empregos, levando-os a buscar um líder que possua condições de enfrentar o presidente americano.
Enquanto isso, a resposta do governo e a atitude de seus líderes diante das ameaças externas continuarão a moldar o panorama eleitoral do Canadá, e a figura de Carney poderá ser essencial nesta dinâmica.
Portanto, à medida que o país se aproxima das eleições, a responsabilidade de oferecer um plano sólido e uma postura firme contra as investidas de Trump se torna ainda mais urgente. Canadienses e suas lideranças se vêem em um momento histórico, onde as decisões políticas não afetam apenas o futuro imediato, mas também a identidade e a soberania da nação canadense.