A Arábia Saudita e o Catar têm atuado como mediadores em algumas das negociações de paz mais significativas do mundo. Recentemente, autoridades dos Estados Unidos e da Ucrânia se reuniram na Arábia Saudita, em busca de um possível acordo de paz com a Rússia.
A escolha desse país para o mediador é resultado do estreito relacionamento do príncipe herdeiro Mohammed bin Salman com líderes mundiais, como o presidente Vladimir Putin, da Rússia, e o ex-presidente Donald Trump, dos EUA. O governo saudita se posiciona ativamente como um facilitador nas negociações entre as partes em conflito.
O Catar, vizinho da Arábia Saudita, também tem se destacado como um pacificador ao longo das últimas duas décadas. O país desempenhou um papel crucial na intermediação do cessar-fogo vigente em Gaza entre Israel e o Hamas, além de ter promovido diversas tréguas antes disso.
Mas o que motiva a Arábia Saudita e o Catar a atuarem como mediadores internacionais? Quais as consequências dessa escolha para a relação entre estes vizinhos?
A Arábia Saudita passou a abraçar uma postura de mediadora após anos de uma abordagem mais assertiva. Em 2015, por exemplo, o país interveio na guerra civil do Iémen, apoiando o governo local por meio de ataques aéreos contra os rebeldes Houthis.
Inicialmente, a liderança de Mohammed bin Salman se caracterizou por um comportamento mais conflituoso. No entanto, essa abordagem foi revista, reconhecendo que a mediação de acordos de paz poderia ser uma estratégia mais eficaz para garantir a estabilidade no Oriente Médio. Elizabeth Dent, do Washington Institute, explica que esse esforço é parte de uma estratégia mais ampla da Arábia Saudita para diversificar sua economia e reduzir a dependência das exportações de petróleo.
A Arábia Saudita ostenta uma longa história na mediação de conflitos no Oriente Médio. Um exemplo emblemático ocorreu em 1989, quando mediou negociações entre facções libanesas que resultaram no Acordo de Taif, inaugurando um cessar-fogo após 15 anos de guerra civil. Mais recentemente, sob a liderança de Mohammed bin Salman, o país se reestreou como pacificador, mantendo diálogos com os Houthis desde 2022, e supervisionando um acordo que possibilitou a troca de mais de 250 prisioneiros de guerra entre Rússia e Ucrânia.
O Catar emergiu como um mediador relevante no cenário internacional, sendo parte de uma coalizão que auxiliou na mediação do cessar-fogo entre Israel e Hamas em janeiro de 2025. Adicionalmente, em 2020, o país intermediou um acordo de paz entre o Talibã e os Estados Unidos, encerrando uma guerra que durou 18 anos no Afeganistão.
Além disso, o Catar desempenhou um papel ativo em acordos de paz na África, como no caso do cessar-fogo entre o governo do Chade e diversos grupos de oposição em 2022.
A ascensão do Catar como mediador se deu sob a liderança de Hamad bin Khalifa al-Thani, que se tornou emir em 1995. O desejo do Catar por influenciar diplomaticamente a região está associado à sua necessidade de desenvolver a reserva de gás North Dome/South Pars, no Golfo.
Optar por ser um mediador entre as nações é uma estratégia que permite ao Catar estreitar laços com diversas nações, criando, assim, uma rede de apoio. Essa função é reforçada na Constituição do país, adotada em 2004.
Uma das razões pelas quais o Catar é frequentemente selecionado como mediador é o seu relacionamento menos conflituoso com grupos considerados adversários pela Arábia Saudita. O Catar não partilha da aversão à Irmandade Muçulmana, ao Hamas e ao Talibã que é característica da política saudita.
Essas diferenças contribuíram para a chamada 'fenda do Golfo' em 2017, quando a Arábia Saudita e outros países cortaram relações com o Catar. Desde essa crise, o Catar se posicionou de forma mais cautelosa em suas negociações com grupos considerados extremistas, adotando uma postura mais neutra.
Em resumo, a Arábia Saudita e o Catar estão emergindo como mediadores de paz globais, cada um com suas motivações, estratégias e resultados. Seus papéis distintos e a capacidade de negociar com diferentes grupos ressoam fortemente no cenário político atual.
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