O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, desembarcou na Arábia Saudita nesta segunda-feira, 10, para um encontro com o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman. Este encontro ocorre em um contexto delicado, já que as autoridades ucranianas e americanas se preparam para negociações que buscam um desfecho para a guerra com a Rússia, que se torna cada vez mais complexa para Kiev.
A relação dos Estados Unidos com a Ucrânia passou por mudanças significativas. Tradicionalmente, os EUA eram vistos como o principal aliado da Ucrânia, mas atualmente, as políticas de guerra estão sendo revista, uma vez que Washington busca um fim rápido para o conflito. Isso inclui um envolvimento mais direto com a Rússia e uma redução na assistência militar e no compartilhamento de informações com Kiev.
Zelensky e o príncipe herdeiro saudita se reuniram em um momento em que a Arábia Saudita tem atuado como mediadora em diversos aspectos desde o início da invasão russa em 2022. O país já participou de trocas de prisioneiros e se ofereceu como espaço para negociações entre os EUA e a Rússia, inclusive no mês passado.
O presidente ucraniano declarou seu compromisso com um diálogo produtivo com os EUA. Com este objetivo, ele se reunirá com autoridades americanas em duas ocasiões esta semana. As discussões, que começam na terça-feira, 11, são as primeiras negociações formais desde o encontro anterior entre Zelensky e o presidente norte-americano, Donald Trump, na Casa Branca.
Nestas conversas, um dos tópicos centrais será a busca por um acordo bilateral relacionado a minerais e estratégias para trazer um término para a guerra em curso. Sob forte pressão de Trump, que deseja encerrar o conflito rapidamente, Zelensky busca demonstrar alinhamento, apesar da ausência de garantias de segurança por parte dos EUA — garantias que a Ucrânia considera essenciais para qualquer pacto de paz.
Além disso, Zelensky não participará das conversas de terça-feira, mas sua equipe poderá contar com figuras-chave, incluindo seu chefe de gabinete e os ministros de Relações Exteriores e Defesa, além de um destacado oficial militar. "Estamos totalmente comprometidos com o diálogo construtivo e esperamos alcançar decisões e passos necessários", compartilhou Zelensky em suas redes sociais.
Por outro lado, representantes dos EUA afirmam que uma parte importante da reunião será entender se a Ucrânia está pronta para fazer concessões significativas à Rússia para um eventual cessar-fogo. Um dos oficiais mencionou: "Não se pode clamar por paz enquanto se recusa a ceder em qualquer questão". Outro oficial acrescentou: "Nosso objetivo é descobrir se os ucranianos querem não apenas a paz, mas uma paz que seja realista."
Com a estrutura das negociações sendo delineada, Steve Witkoff, enviado especial de Trump, destacou que a intenção é estabelecer um marco para um acordo de paz e um cessar-fogo inicial. Zelensky expressou a necessidade de uma trégua em áreas aéreas e marítimas, assim como uma nova troca de prisioneiros, o que também funcionaria como um teste para a disposição da Rússia em encerrar o conflito.
No entanto, Moscou já rejeitou a proposta de uma pausa temporária, argumentando que isso seria um plano para ganhar tempo para a Ucrânia, ao invés de um verdadeiro esforço pela paz. Zelensky também informou que Kiev está disposta a firmar um acordo sobre minerais com os EUA, visando criar um fundo para a venda de recursos com o potencial de fortalecer a economia ucraniana.
Com o apoio dos EUA incerto, Zelensky tem sido vocal em sua solicitação aos aliados europeus, instando-os a aumentar a assistência, enquanto a situação militar da Ucrânia se agrava. O exército ucraniano, que havia avançado na região de Kursk, se vê agora em uma posição vulnerável, cercado por forças russas, segundo dados de mapas abertos. Atualmente, a Rússia controla cerca de 20% do território ucraniano, incluindo a península da Crimeia, que foi anexada em 2014, e continua pressionando a região de Donetsk, intensificando os ataques com drones e mísseis contra cidades e vilarejos.
Recentemente, Zelensky destacou que a Rússia lançou um total de 1.200 bombas guiadas, quase 870 drones de ataque e mais de 80 mísseis sobre a Ucrânia apenas na semana anterior.