A Síria vive atualmente um cenário alarmante de massacres e violência, cerca de três meses após a derrubada do ditador Bashar al-Assad. Este contexto agrava as feridas de uma década de guerra civil, acompanhada por uma devastação econômica acentuada e continua intervenção de forças externas. Um ataque a agentes de segurança do novo governo sírio em 6 de março serviu como o estopim para a mais severa onda de violência sectária no país desde a queda de Assad, em dezembro de 2024, quando o grupo islâmico Hayat Tahrir al-Sham (HTS) tomou o poder.
Nos últimos dias, a repressão brutal do novo regime, direcionada especialmente a uma comunidade religiosa aliada da família Assad, resultou em centenas de mortes de civis e fez ressurgir antigas disputas. O temor de um ciclo de violência incontrolável paira sobre o país, que já enfrenta uma economia em colapso e continua vulnerável às influências externas.
Em dezembro passado, a Síria presenciou a queda do regime Assad, que governava o país com mão de ferro desde 1971. Esta transição ocorreu durante uma ofensiva relâmpago do HTS, endossada por outras facções. O ditador e membros de sua família buscaram refúgio na Rússia. Após a conquista de Damasco, Ahmed al-Sharaa, líder do HTS, assumiu a presidência. Embora tenha tentado se desvincular de seu passado jihadista, as tensões com a comunidade alauíta – que representa cerca de 10% da população síria – persistiram. Historicamente, essa comunidade formou a base do regime Assad e agora teme represálias do novo governo.
Desde a ascensão do HTS, os alauítas relataram protestos após incidentes, incluindo a queima de templos e a execução de civis, evidenciando a crescente insegurança e desconfiança entre as minorias religiosas.
No início de março, o novo regime acusou grupos armados leais a Assad de ataques em Beit Ana, ao longo da costa síria. Essas hostilidades iniciaram uma série de confrontos em outras áreas predominantemente alauítas, levando à morte de vários membros das forças de segurança e à mobilização de tropas governamentais nas cidades de Tartus e Latakia. O fato de que o novo governo tenha enviado helicópteros armados para atacar insurgentes marcou uma escalada significativa na violência.
Com o avanço dos conflitos, emergiram denúncias de que membros do novo regime estavam executando civis nas áreas alauítas, refletindo um padrão de vingança étnica. Um morador de Latakia, Eimad Othman, descreveu a situação como “pura vingança étnica”. As evidências de execuções sumárias e chacinas proliferaram, fazendo com que a situação se tornasse insustentável.
Relatos de que corpos estavam sendo descartados no mar rapidamente se intensificaram, gerando uma onda de terror entre as comunidades locais. Com a escalada da violência, a ONU e os EUA pediram investigações sobre os massacres, enquanto o novo governo alegou que as matanças eram de responsabilidade de ações individuais.
As tentativas de Ahmed al-Sharaa de promover a unidade nacional e a paz civil foram colocadas em xeque após os massacres. Embora o novo regime tenha recuperado algumas áreas, a legitimidade de sua administração está sendo questionada devido à falta de controle sobre suas tropas e a crescente desconfiança popular.
Depois a queda de Assad, a população síria alternou entre esperança e ceticismo, especialmente entre as minorias religiosas que ainda se mostram apreensivas quanto às intenções do novo governo, resultado da luta armada e da histórico de violência.
Estudos recentes indicam que a violação sistemática dos direitos humanos e a resposta violenta do novo regime podem fomentar uma insurgência alauíta mais robusta. Isso é agravado pela inexperiência dos novos líderes e pela falta de um plano de governança claro, assim como ocorreu no Iraque após a queda de Saddam Hussein.
Além das violências internas, dinâmicas externas continuam a afetar o cenário, como as ações do governo israelense, que aproveitou a situação para ampliar sua presença militar em áreas de interesse estratégico. Recentemente, Israel anunciou que está disposto a proteger os drusos na fronteira síria e intensificou suas operações militares contra alvos em território sírio.
No norte, disputas em andamento entre os curdos e os turcos continuam a acentuar a instabilidade. A situação é complicada ainda mais por bombardeios e operações militares americanas contra alvos sírios, perpetuando um ciclo de violência e recrudescimento dos conflitos na região.
A situação econômica continua crítica, com a ONU estimando que a reconstrução da Síria custará mais de US$ 400 bilhões, sendo que a devastação econômica foi acentuada pelas sanções permanecentes contra o regime de Assad. Enquanto algumas sanções foram amenizadas, a fragilidade da economia síria permanece, com um PIB reduzido drasticamente e exportações que despencaram de US$ 18 bilhões para apenas US$ 1,8 bilhão por ano.
Neste cenário tenso e complexo, o futuro da Síria permanece incerto. O povo sírio, que já enfrentou uma década de conflito, observa com ansiedade os próximos passos do novo governo e as repercussões de suas ações nas diferentes comunidades do país.
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