A admiração de John Textor pelo Benfica, clube português reconhecido mundialmente, não é um assunto novo. O Benfica serviu de inspiração para a criação da Eagle Football, a rede de clubes que inclui o Botafogo. Essa conexão vai além da marca e se estende também para as escolhas de treinadores realizadas pelo empresário norte-americano, que já contratou ou entrevistou vários nomes com passagens pelas categorias de formação do time português. O mais recente a integrar o Alvinegro é Renato Paiva, que chegou ao clube na última semana, mas a lista de treinadores instrutores associada ao Benfica é extensa.
Mas o que torna o Benfica tão especial em seu processo de formação? Para compreender melhor essa dinâmica, o ge conversou com António Carraça, responsável pela estruturações das categorias de base do Benfica, e que também teve um papel crucial na contratação de Renato Paiva. Assim, torna-se possível explorar como a tradição do Benfica se relaciona, de maneira indireta, com o Botafogo em 2025.
Convencido pelo então presidente Luís Filipe Vieira, Carraça apresentou em 2004 o projeto "Geração Benfica". A iniciativa visava não apenas o desenvolvimento de infraestrutura completa, incluindo campos e uma residência de qualidade, mas também a definição de um perfil desejado tanto para os técnicos quanto para os jogadores formados pelo clube. O foco estava em princípios esportivos e financeiros, com um cuidado especial na seleção de talentos.
"O projeto que apresentei tinha a ver com vários aspectos fundamentais. A visão precisava alinhar sucesso esportivo e rentabilidade financeira. Desenvolver um plano que contemplasse as competências dos treinadores e jogadores, essencial para a qualificação na formação do Benfica", explicou Carraça. Ele ainda enfatizou que: "O projeto Geração Benfica era mais do que qualificar equipes, era qualificar jogadores. Com isso, conseguiríamos formar atletas melhores, resultando em um desempenho superior nas competições e, consequentemente, mais títulos."
No que diz respeito aos técnicos, uma característica revisitava a importância da gestão humana, o que faz parte do conceito conhecido como "VPP" (visão, plano, pessoas) que Carraça implementou. Assim, Renato Paiva se encontrou no Benfica, inicialmente não como treinador, mas a partir de sua indicação pelo ex-jogador Jaime Graça, que à época coordenava a especialização de formação do clube.
Renato Paiva, atual treinador do Botafogo, começou sua jornada no Benfica como parte do departamento de análise, desenvolvendo uma visão apurada para a identificação de jogadores relevantes. Após um ano, ele obteve as certificações necessárias e iniciou sua carreira como técnico. Carraça detalhou as expectativas que cercavam o perfil adequado para o cargo. "O treinador precisava ser um gestor habilidoso de recursos humanos, ter qualificação técnica e experiência prática. Caso tivesse sido um jogador profissional, seria um diferencial, mas também deveria ser ambicioso, organizado, apaixonado pelo que faz e ter uma abordagem comunicativa moderna."
O processo de seleção em 2004 foi rigoroso, abrangendo entrevistas com os treinadores de todas as 16 equipes da base do Benfica. Isso resultou na contratação de vários nomes de destaque, incluindo Rui Vitória e Bruno Lage, que hoje comanda o time principal do Benfica.
A construção de vínculos afetivos entre treinadores e atletas é um aspecto fundamental do trabalho desenvolvido nas camadas de base do Benfica. Filipe Coelho, um técnico formado na instituição que atualmente comanda o Chelsea sub-21, destacou a necessidade de um suporte emocional, lembrando que muitos jogadores são afastados de suas famílias a partir de tenra idade. "Falamos de crianças muitas vezes deslocadas de seus lares. O suporte emocional e o acolhimento são essenciais para o êxito na formação. Muitas vezes, somos a única família que esses jovens têm", disse Coelho.
Ele ressalta que a habilidade dos treinadores de gerenciar todos os aspectos em volta dos jogadores é crucial para prepará-los para cumprirem suas funções em nível profissional. "O salto entre as categorias de base e a equipe principal precisa ser natural, favorecido pelos treinador que vivenciaram a formação no Benfica", completou.
John Textor, dono do Botafogo, já se deparou com alguns técnicos que têm vínculos com o Benfica. Nomes como Renato Paiva e Bruno Lage são apenas alguns exemplos. Além deles, Luís Nascimento e Jorge Maciel também foram considerados para o cargo no Botafogo em meados de 2025, demonstrando a conexão entre a gestão do Alvinegro e os valores que permeiam a formação dos Encarnados.
Filipe Coelho, que começou sua trajetória no Benfica sob a orientação de Renato Paiva, endossou a qualidade do treinador. "O Botafogo agora possui um Renato ainda mais preparado. Ele é um treinador que requer tempo para implantar suas ideias, e essa característica será rapidamente visível no desempenho da equipe, que precisa operar com um estilo proativo."
O primeiro grande desafio de Renato Paiva no Botafogo será um jogo-treino contra o Cruzeiro no próximo sábado, que ocorrerá no estádio Nilton Santos, sem a presença de público. O primeiro confronto oficial do Alvinegro no Campeonato Brasileiro 2025 será contra o Palmeiras, programado para o dia 29 de março.