Nos últimos meses, os navios de guerra da China têm feito aparições significativas ao longo da costa da Austrália, passando a apenas 320 quilômetros de Sydney e realizando exercícios militares surpreendentes nas proximidades da Nova Zelândia. Essas atividades, que foram executadas sem qualquer aviso prévio do governo chinês, geraram uma grande preocupação em ambos os países. O aumento da presença militar chinesa já não fica restrito às águas distantes do Mar da China Meridional ou do Estreito de Taiwan, onde a tensão territorial está em ascensão sob a liderança de Xi Jinping.
Simultaneamente, embarcações da marinha chinesa foram observadas próximas ao Vietnã e a Taiwan, revelando uma demonstração clara de força militar que tende a inquietar os aliados dos Estados Unidos. A China, por sua vez, defende que suas ações estão de acordo com a lei internacional, e a mídia estatal chinesa sugere que os países ocidentais devem se acostumar com a presença de suas embarcações em águas adjacentes.
Historicamente, as nações que são parceiras de Washington encontraram segurança em suas alianças. No entanto, as dúvidas aumentaram após a reunião tumultuada entre Donald Trump e o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, onde o líder dos EUA inicialmente se mostrou disposto a cortar a ajuda à Ucrânia enquanto o país enfrenta a invasão russa. Tal incerteza no Salão Oval fez com que líderes na região do Pacífico se perguntassem: se os EUA podem abandonar a Ucrânia, estariam dispostos a fazer o mesmo na Ásia diante de uma provocação de Pequim?
A busca de Trump por uma relação mais próxima com a Rússia e sua abordagem indiferente à Europa apenas aumentam os receios na região do Indo-Pacífico, onde muitos países dependem dos EUA para controlar a agressão da China. Collin Koh, um pesquisador da S. Rajaratnam School of International Studies em Cingapura, levantou questionamentos sobre o comprometimento dos EUA com a segurança na região. “Isso levanta dúvidas sobre se os EUA estarão realmente dedicados a garantir a segurança regional”, aponta.
Em meio a essa tensão, a Austrália intensificou seus esforços para monitorar e informar sobre os movimentos da China no Pacífico Sul, divulgando atualizações diárias sobre a localização de suas embarcações e aeronaves de reconhecimento. O Ministro da Defesa australiano, Richard Marles, mencionou que essas informações estão sendo coletadas para entender melhor as intenções chinesas.
Por outro lado, o embaixador da China na Austrália, Xiao Qian, refutou a ideia de que seu país representa uma ameaça. Ele reforçou que a presença naval chinesa é uma prática normal para uma potência regional: “É comum que a China realize atividades em várias partes da região”, declarou à rede pública ABC.
Em Washington, Trump também se dirigia aos aliados europeus, pressionando-os a aumentar seus investimentos em defesa militar em resposta à situação da Ucrânia. Antes da polêmica reunião com Zelensky, o presidente americano havia planejado firmar um acordo sobre recursos minerais com a Ucrânia, visando cobrir custos da assistência militar. No entanto, a cerimônia não ocorreu, e Trump pediu a Zelensky que voltasse quando estivesse preparado para discutir a paz.
Após o anúncio de cortes na ajuda militar à Ucrânia, especialistas apontaram que a intenção de Trump era forçar os países europeus a contribuírem mais para o esforço de defesa. Peter Dean, do United States Studies Centre da Universidade de Sydney, enfatiza que Trump acredita que as nações europeias têm explorado os Estados Unidos por décadas.
Essa estratégia parece ter trazido resultados quando, em 4 de março, a União Europeia anunciou um plano que permite aos governos dos estados-membros tomarem emprestado €150 bilhões para fortalecer suas despesas com defesa, especialmente em apoio militar à Ucrânia. Trump, segundo Dean, está em busca de um acordo de paz, mas ignora as preocupações de Zelensky sobre a viabilidade dessa paz sem medidas para conter Putin.
Drew Thompson, uma autoridade do RSIS em Cingapura, observa que, nos esforços do governo Trump para resolver conflitos em outras áreas, ele está priorizando a necessidade de dissuadir a China no Pacífico. A mais recente exibição de força por parte dos militares chineses trouxe à tona a urgência dessa meta. “É sem dúvida um teste de determinação”, destacou Thompson.
Ao mesmo tempo, a postura de Trump e suas dúvidas sobre parcerias internacionais trazem impactos diretos no acordo AUKUS, um pacto de segurança trilateral entre Austrália, Reino Unido e EUA. À medida que os aliados dos EUA na região observam atentamente a situação, a Austrália já expressa preocupação sobre a estabilidade desse acordo em face da possível incerteza gerada por Trump.
O governo australiano continua a respaldar o AUKUS, demonstrado pelo recente pagamento de US$500 milhões destinado ao fortalecimento da produção de submarinos americanos. Para Trump, acordos como o AUKUS são essenciais, pois visam beneficiar a economia americana e solidificar suas alianças.
Em outros pontos do Pacífico, a inquietação sobre a postura da Casa Branca é palpável. O primeiro-ministro do Japão, Shigeru Ishiba, adotou um discurso cauteloso, pedindo unidade entre os países do Grupo dos Sete, reforçando a importância de manter a influência dos EUA na região. Ele observou que a situação da Ucrânia poderia ser um reflexo do que o Leste Asiático enfrentará no futuro.
A Coreia do Sul, também aliada dos EUA, se mantém vigilante sobre qualquer mudança na assistência militar dos EUA à Ucrânia e respondeu à pressão de Trump quanto a aumentar seus gastos com a presença militar americana. Em um discurso ao Congresso, Trump mencionou tarifas que considera injustas impostas pela Coreia do Sul a produtos norte-americanos, um ponto que Seul já negou.
Enquanto isso, em Taiwan, o Ministro da Defesa Wellington Koo tentou transmitir confiança diante das rápidas mudanças no cenário internacional, destacando que os interesses dos EUA na região Indo-Pacífico são vitais. Koo reiterou que, apesar das suas políticas de “América em primeiro lugar”, os EUA não se afastariam da defesa de seus aliados na região.
Experts observam que os EUA estão frustrados por terem que suportar o peso da defesa de países que não contribuem significativamente. Assim, a atual administração busca priorizar os parceiros mais engajados e capazes. Thompson afirma: “Os Estados Unidos não estão abandonando aliados, mas priorizando aqueles que estão dispostos a ser bons parceiros”.