Após as recentes tensões no cenário internacional, líderes europeus se comprometeram a rearmar o continente em resposta às inquietações provocadas por declarações dos EUA e pela agressão russa na Ucrânia. Essas conversas emergenciais ocorreram após o presidente dos EUA, Donald Trump, ameaçar desmantelar décadas de garantias de segurança, o que levou a uma mudança brusca nas relações transatlânticas.
A postura do atual governo americano, que incluiu a suspensão de ajuda militar e compartilhamento de inteligência com Kiev, intensificou os temores na Europa. O presidente francês, Emmanuel Macron, classificou a presença russa como um "desafio existencial", ressaltando a necessidade de os países europeus se prepararem para a possibilidade de um conflito sem o apoio americano.
Em um esforço para fortalecer a resistência da região, os líderes da União Europeia (UE) se reuniram em uma cúpula extraordinária em Bruxelas, onde discutiram a possibilidade de liberar bilhões de euros para aumentar os gastos com defesa e apoiar a Ucrânia. Uma proposta apresentada poderia mobilizar até 800 bilhões de euros para fortalecer a segurança na Europa, com opções de empréstimos que totalizariam até 150 bilhões de euros para os estados membros.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, definiu esse momento como “decisivo” e adiantou que propostas legais detalhadas serão analisadas em reuniões subsequentes. Emmanuel Macron também anunciou que a UE destinará à Ucrânia mais de 33 bilhões de dólares em assistência, oriundos de ativos russos congelados pela Europa.
Os líderes europeus ressaltaram que a guerra da Rússia contra a Ucrânia representa uma "ameaça direta" à segurança do continente, apontando a necessidade de uma Europa mais soberana e capaz de cuidar da própria defesa. Essa dinâmica é reforçada pela percepção de que a aliança transatlântica pode estar sob risco, especialmente com os comentários de Trump, que insinuou que os EUA poderiam abdicar de compromissos com a OTAN se os países europeus não aumentassem seus gastos em defesa.
Durante a cúpula, foi destacado que o Artigo 5 da OTAN, que assegura a defesa mútua entre os membros, permanece central. As declarações de Trump, que frequentemente criticam as contribuições financeiras dos aliados à segurança coletiva, geram preocupação em um momento onde a segurança europeia é vital frente à crescente agressão russa.
Em meio a esse cenário, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, participou das conversas em Bruxelas e se preparou para discutir um plano inicial de cessar-fogo com a Arábia Saudita. Este esforço é parte de uma tentativa mais ampla de envolver a Europa nas discussões de paz, algo que Von der Leyen enfatizou como crucial para qualquer futura resolução do conflito.
Todas as lideranças da UE, com exceção do primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban, apoiaram um texto que pede um acordo de paz respeitando a independência e integridade da Ucrânia. Macron sugeriu um cessar-fogo temporário para infraestrutura na Ucrânia, mas também alertou sobre a importância de não apressar negociações.
Zelensky anunciou que estão sendo preparadas “propostas práticas” para o fim do conflito e que o primeiro passo deve ser a suspensão dos ataques aéreos russos. Este novo formato de cooperação e a incerteza sobre a posição dos EUA continuam a moldar o cenário geopolítico europeu.
A cúpula não contou com a presença de líderes do Reino Unido e da Turquia, que apesar de serem aliados da OTAN e apoiadores da Ucrânia, não são membros da UE. O líder britânico, Keir Starmer, afirmou que o Reino Unido está pronto para agir caso seja necessário manter a paz. Por outro lado, as autoridades russas desqualificaram as propostas apresentadas, destacando que qualquer presença militar da Europa em solo ucraniano seria inaceitável.
Enquanto isso, o enviado especial da China para Assuntos Europeus, Lu Shaye, declarou que espera que as “políticas agressivas” do governo Trump em relação à Europa forcem uma reflexão sobre as políticas passadas, especialmente em relação à China.