O cinema brasileiro perdeu um de seus maiores ícones com o falecimento de Cacá Diegues, aos 84 anos. O renomado cineasta, um dos fundadores do cinema novo, foi imortal da Academia Brasileira de Letras e colaborador do jornal O GLOBO, onde escrevia colunas recheadas de reflexões sobre arte e sociedade.
Cacá Diegues, conhecido por sua profunda ligação com questões políticas e sociais, deixa um legado que inclui obras memoráveis como Bye Bye Brasil e Deus é brasileiro. Seu trabalho sempre teve como foco a luta pela inclusão e diversidade, temas que permeiam sua filmografia e a história do cinema nacional.
O cineasta faleceu numa sexta-feira após complicações decorrentes de uma cirurgia na próstata. Até o momento, não foram divulgadas informações sobre o seu velório e enterro.
Trajetória e Contribuições para o Cinema
Nascido em 19 de maio de 1940, em Maceió, Alagoas, Cacá mudou-se com a família para o Rio de Janeiro ainda na infância. Formado em Direito pela PUC, ele logo se apaixonou pelo cinema, carreira que o tornaria uma figura central da cultura brasileira.
O cineasta ingressou no Centro Popular de Cultura e foi um dos responsáveis pela produção cinematográfica Cinco vezes favela (1961), onde teve destaque pela direção do episódio Escola de samba, alegria de viver. Seu primeiro longa-metragem solo, Ganga Zumba (1963), é considerado um marco, pois foi o primeiro filme brasileiro a ter protagonistas negros: Antonio Pitanga e Léa Garcia.
A obra de Cacá, sempre atenta às questões sociais, também abordou a imigração na cidade grande em A grande cidade (1966). Diante da repressão da ditadura militar na época, o cineasta passou a utilizar a metáfora para discutir temas críticos em Os herdeiros (1969), que foi alvo de censura por parte do governo.
Reconhecimento e Sucesso Comercial
Após um período em Paris, Cacá retornou ao Brasil e produziu filmes que misturavam temas leves com críticas sociais. Destacam-se Quando o carnaval chegar (1972) e Joanna Francesa (1973). Sua maior fase de sucesso comercial ocorreu na segunda metade da década de 1970, com obras como Xica da Silva (1976), que atraiu 3,2 milhões de espectadores.
Outras produções icônicas incluem Chuvas de verão (1978) e Bye Bye Brasil (1980), que, ao lado de uma trilha sonora marcante de Chico Buarque, teve destaque no Festival de Cannes.
Apesar das dificuldades enfrentadas pelo cinema nacional durante o governo Collor, Cacá se manteve ativo, lançando obras para TV como Dias melhores virão (1989) e Veja esta canção (1993). Em 1996, novamente acertou com Tieta do Agreste, que atraiu uma audiência considerável para a época.
Legado e Influência Cultural
O cineasta não apenas produziu filmes, mas também desempenhou um papel essencial na formação de novas gerações de cineastas. Nos anos 1990, foi fundamental na criação do Núcleo de Cinema do Nós do Morro. Em 2010, ele se destacou pela produção de 5 X Favela, agora por nós mesmos, que foi pioneiro ao reunir a experiência de jovens cineastas de favelas do Rio de Janeiro.
Cacá Diegues se casou duas vezes e teve três filhos. O cineasta foi eleito para a Academia Brasileira de Letras em 2018, sucedendo seu amigo, o também cineasta Nelson Pereira dos Santos. Em seu discurso de posse, ele ressaltou a importância do legado deixado por aqueles que vieram antes dele no cinema.
Seu último trabalho foi a filmagem de Deus ainda é brasileiro, sequência de seu famoso filme, que ainda não foi lançado. O último longa comercializado por Cacá foi O grande circo místico (2018), exibido no Festival de Cannes.
Cacá Diegues será lembrado como um dos nomes mais significativos da cinematografia brasileira, um artista que nunca se afastou de sua luta por um cinema inclusivo e cidadão. Seu falecimento deixa um vazio na cultura nacional.
O legado de Cacá é um convite para todos refletirem sobre a importância da inclusão na arte e a força que o cinema pode ter para transformar a sociedade. Sinta-se à vontade para compartilhar memórias ou comentários sobre este grande artista que nos deixou.