A recente decisão dos EUA e da Rússia de iniciar negociações sobre a Ucrânia sem a participação do governo ucraniano é um lembrete de eventos passados, onde grandes potências tomaram decisões que impactaram nações sem considerar a voz de seus cidadãos.
A Ucrânia foi excluída de uma importante reunião realizada na Arábia Saudita entre autoridades dos dois países, onde estratégias para uma possível paz foram discutidas. O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, expressou que o país "nunca aceitará" decisões que não contemplem sua inclusão nas negociações para pôr fim ao conflito com a Rússia.
Essa omissão traz à tona a ação de lideranças que, em situações anteriores, também ignoraram as populações locais ao decidir sobre seus destinos. Exemplos ao longo da história demonstram que essas abordagens geralmente resultam em consequências negativas para os envolvidos. Abaixo, exploramos sete situações em que potências negociaram sem ouvir os afetados:
No período de 1884-1885, Otto von Bismarck, um proeminente líder alemão, organizou uma conferência em Berlim convidando as potências europeias para dividir o continente africano. Nenhum africano participou desse encontro, que culminou na chamada "Partilha da África". Uma das consequências mais trágicas dessa divisão foi a criação do Estado Livre do Congo, dominado pela Bélgica, onde ocorreram atrocidades coloniais que resultaram na morte de milhões. A Alemanha também estabeleceu colônias, como a antiga Sudoeste Africano (atual Namíbia), onde se perpetraram genocídios contra as populações locais.
Em 1899, a Alemanha e os Estados Unidos dividiram as ilhas Samoa sem incluir os samoanos nas discussões. Apesar do desejo deles de autogoverno ou de uma confederação com outros Estados do Pacífico, as potências forçaram a divisão. Como compensação, o Reino Unido conquistou o controle de Tonga. A Samoa Alemã passou para domínio da Nova Zelândia após a Primeira Guerra Mundial e só se tornou independente em 1962, enquanto a Samoa Americana permanece sob controle dos EUA.
Durante a Primeira Guerra Mundial, representantes britânicos e franceses estiveram envolvidos em discussões para dividir o Império Otomano, excluindo os otomanos das negociações. O resultado disso foi o famoso Acordo Sykes-Picot, que redesenhou as fronteiras do Oriente Médio benefícios estratégicos dos países europeus. Promessas previamente feitas sobre a independência árabe foram desconsideradas, resultando em conflitos que persistem até hoje.
Em setembro de 1938, o primeiro-ministro britânico Neville Chamberlain e o primeiro-ministro francês Édouard Daladier se reuniram com Benito Mussolini e Adolf Hitler para assinar o chamado Acordo de Munique. Enquanto os líderes tentavam evitar que a guerra se espalhasse pela Europa, a Tchecoslováquia, que seria divida, não teve representante no encontro. Essa reunião é frequentemente vista como um exemplo de apaziguamento de uma potência agressiva e culminou em desastres subsequentes.
Em 1938, durante uma conferência em Évian-les-Bains, 32 países se reuniram para deliberar sobre os refugiados judeus fugindo do regime nazista. Os representantes de judeus não foram incluídos nas discussões. Apesar das expectativas, os países não conseguiram chegar a um acordo concreto sobre a aceitação de judeus refugiados, com exceção da República Dominicana. >
Ao planejar a invasão da Europa Oriental, Hitler tratou de garantir que a União Soviética não interferisse nas suas ações. O resultado foi um pacto de não agressão que viabilizou a divisão da Europa em esferas sob influência nazista e soviética. Isto possibilitou que os soviéticos também expandissem seu território e se envolvessem em conflitos na região durante a Segunda Guerra Mundial.
Em 1945, Winston Churchill, Josef Stalin e Franklin D. Roosevelt reuniram-se para discutir o futuro da Europa após a derrota da Alemanha nazista. A Conferência de Yalta ficou marcada pela divisão da Europa, resultando na configuração política que levaria à Guerra Fria. O encontro ocorreu em território ucraniano que, mais tarde, seria anexado pela Rússia, levantando questões sobre os conflitos de interesse contemporâneos e o destino da Ucrânia.
Esses episódios históricos ressaltam a conhecida prática de potências ignorarem as vozes das populações locais e tomarem decisões que os afetam diretamente. O atual cenário nas negociações envolvendo a Ucrânia traz à tona a necessidade de considerar as opiniões e os direitos dos envolvidos para uma resolução pacífica e justa. É um lembrete de que o futuro de uma nação deve ser decidido em conjunto com seus cidadãos.